Documento: Rodrigo Amorim trabalhou em Brasília nomeado em duas cidades no Rio

Um documento obtido pelo blog revela que o deputado Rodrigo Amorim, do PSL, exerceu função em Brasília, em novembro de 2011, enquanto estava nomeado em prefeituras de duas cidades do Estado do Rio. A petição em que consta a informação está num processo, iniciado em 2010, de cobrança de dívida do Bradesco contra o parlamentar. E quem assina é a própria mulher de Amorim, a advogada Fernanda Braga Mendes, que o representa na ação.

Conforme o blog noticiou, o deputado esteve, por nove meses, entre os anos de 2011 e 2012, nomeado ao mesmo tempo nas prefeituras de Nova Iguaçu (Secretaria de Saúde) e Teresópolis (Secretaria de Esporte), distantes cem quilômetros uma da outra. Justamente dentro desse período, em novembro de 2011, sua mulher informou à Justiça do Rio que Rodrigo Amorim vinha exercendo função em Brasília.

Salário chegou a ser bloqueado

Não há detalhes na ação sobre que função seria esta exercida por Amorim em Brasília. Neste processo, a defesa também não faz nenhuma referência à nomeação em Teresópolis. Apenas é citado o cargo de Nova Iguaçu, por causa do bloqueio da conta salário do deputado.

Fernanda Braga Mendes conseguiu recorrer da decisão, alegando que o parlamentar precisava do dinheiro para a subsistência dos filhos. O processo de cobrança da dívida, que foi estipulada em pouco mais de R$ 58 mil em 2010, está suspenso desde o ano passado até que sejam localizados bens passíveis de penhora.

No mesmo processo, consta a cópia de um contracheque de Rodrigo Amorim, de agosto de 2011. Ele mostra que o deputado recebia na prefeitura de Nova Iguaçu um salário líquido de R$ 1.438,24. Apesar de ter afirmado ao blog na semana passada que “custeava o deslocamento entre as duas cidades (Nova Iguaçu e Teresópolis)” em que estava nomeado, o documento traz o recebimento de R$ 82 de auxílio-transporte.

Também consta no processo um extrato bancário de Amorim, de outubro de 2011, em que estão um vencimento de R$ 1.541,18 de Nova Iguaçu e outro de R$ 2.318,86 de “prefeitura”. Como todos os documentos estão públicos, o blog reproduz para os leitores:

Mulher nomeada ao mesmo tempo

Enquanto defendia o marido de um processo de cobrança de dívida na Justiça, Fernanda Braga Mendes também tinha um cargo público junto com ele. Ela foi nomeada e exonerada da Prefeitura de Nova Iguaçu exatamente nos mesmos dias do marido. Ele foi assessor da Secretaria municipal de Saúde. Ela, da Secretaria de Governo.

Os dois já haviam trabalhado juntos, em meados dos anos 2000, na Fundação Municipal de Saúde (FMS) de Niterói. Rodrigo Amorim foi procurador autárquico e sua mulher foi assessora técnica na Superintendência de Ações Jurídicas.

No período em que o deputado esteve na FMS, a ONG Instituto Terceiro Setor – Método, Pesquisa, Projetos e Desenvolvimento, fundada por ele em 1999 e a partir de 2004 gerida por sua mãe, Jana Amorim, tinha contrato com a fundação. Para a manutenção do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foram pagos inicialmente, em 2005, R$ 250 mil mensais. Em 2008, com aditivos, o valor chegou a R$ 273 mil.

Cargos com vereadores

Fernanda Braga Mendes, mulher de Amorim, também teve passagem em cargo comissionado pela Câmara do Rio. Em 1º de janeiro de 2013, ela foi nomeada no gabinete do vereador Átila A. Nunes, que iniciou o mandato no PSL, mas se transferiu em seguida para o antigo PMDB. Em 1º de abril de 2014, ela passou para o gabinete de Marcelo Piuí (PHS).

Em 10 de novembro de 2014, ela retornou ao gabinete de Átila A. Nunes, onde ficou até 15 de dezembro de 2015. Neste meio tempo, mudou sua foto de capa do Facbeook, no dia 18 de abril de 2015.

Fernanda Mendes e Rodrigo Amorim em viagem na Europa / Reprodução / Facebook

De 15 de dezembro de 2015 a 23 de fevereiro de 2016 Fernanda esteve no gabinete do vereador Edson Reis (PTC). Vale lembrar que Amorim também esteve lotado na Câmara Municipal do Rio entre 1º de novembro de 2015 e 1º de março de 2016, no gabinete do vereador Jimmy Pereira (PRTB). No caso dele, também havia o acúmulo com outro cargo na Prefeitura de Mesquita, na Baixada Fluminense.

Tanto o cargo de Rodrigo Amorim quanto o de Fernanda Mendes na Câmara do Rio eram comissionados DAI-5, cujo valor é de R$ 3.743 mensais.

Endividado, mas viajando

Conforme o blog mostrou na semana passada, além de a ONG fundada por Amorim ter deixado dívidas milionárias trabalhistas e com a União, o próprio deputado também amarga problemas financeiros. Com o governo federal, são R$ 28,6 mil na Dívida Ativa; IPTU, R$ 23 mil; e OAB, R$ 14,3 mil. Apesar disso, o parlamentar não deixou de se divertir nos últimos tempos.

Fotos postadas na página do Facebook de sua mulher, Fernanda Braga Mendes, mostram o casal, em dezembro deste ano, curtindo o sol numa pousada na Praia Brava, em Búzios. Nesta época do ano, as diárias saem em torno de R$ 500.

Foto tirada pela mulher de Rodrigo Amorim, em Búzios / Reprodução / Facebook

Entre o fim de janeiro e o início de fevereiro, foram publicadas várias fotos do casal com os filhos em parques de Orlando, na Flórida. Fernanda Mendes também postou um vídeo em que mostrava o hino americano sendo cantado antes da realização de um jogo da NBA. Com direito a crachá, Amorim e a mulher também tiraram fotos na Marquês de Sapucaí, durante os desfiles das escolas de samba.

O “Caça-Maconha”

Nos últimos dias, além de chamar o Blog do Berta de “obscuro blog ligado à esquerda” (esclarecemos que é um blog de jornalismo), o deputado Rodrigo Amorim tem tido seus altos e baixos.

Nesta terça (4), conseguiu aprovar um projeto de lei de sua autoria junto com o presidente da Casa, André Ceciliano (PT), que destomba o Canecão, casa de espetáculos desativada desde 2010. Nesta quarta (5), porém, viu o projeto de uma CPI das Universidades, de seu colega de PSL Alexandre Knoploch, ser derrotado em plenário por 31 votos a 16.

Nas redes sociais, o deputado mais votado do Rio, que teve a campanha marcada por quebrar uma placa em homenagem à vereadora Marielle Franco, chamou a atenção por um vídeo em que aborda um usuário de maconha no Centro do Rio.

Nesta quarta, também foi publicado um projeto de lei de Rodrigo Amorim que pretende autorizar a internação compulsória de dependentes químicos. O tema já vem sendo discutido em âmbito federal.

Com a palavra, Rodrigo Amorim

Sobre o fato de estar nomeado em Teresópolis e Nova Iguaçu e exercer função em Brasília, Rodrigo Amorim afirmou em nota que: “lembra que, como advogado, era normal que fosse a Brasília várias vezes ao mês, uma vez que na capital federal se localizam as sedes de todos os tribunais superiores – como é do conhecimento geral. Ir a Brasília é algo comum na vida pública, e é também comum que municípios mantenham inclusive representações na capital”.

Sobre as nomeações de sua mulher, uma inclusive ao mesmo tempo de Amorim, em Nova Iguaçu, o deputado disse na nota: “Sua esposa, a advogada Fernanda Mendes, é uma das maiores especialistas do Brasil em Direito Médico, BioÉtica e Direito da Saúde. Não era necessária a indicação do deputado para que Fernanda obtivesse qualquer trabalho como advogada. O deputado esclarece que discorda veementemente de quem acredita que mulheres só obtêm sucesso em suas carreiras se houver ajuda do marido. Tal assertiva constitui machismo (além de anacronismo)”.

Sobre ter dívidas e viajar, ele disse: “Quanto à associação entre ter dívidas e não poder viajar, já houve quem viajasse sem ter dívidas, como acontecia com ex-governadores hoje presos”.

*Foto em destaque: O deputado Rodrigo Amorim, em sessão na Alerj / Divulgação / Thiago Lontra / Alerj

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