Ok, vivemos uma sequência de escândalos como nunca antes na história deste país, mas é bom lembrar: este mês, foi preso o ex-secretário estadual de Saúde Sérgio Côrtes. E o delator dele, seu subsecretário executivo durante o governo Sérgio Cabral, Cesar Romero Vianna Júnior, serve de inspiração para algumas palavras que virão a seguir.
Permitam-me lembrar que, além de Côrtes, também foram presos na operação “Fatura Exposta” dois empresários ligados à empresa Oscar Iskin, uma distribuidora de material médico: Miguel Iskin e Gustavo Estellita Cavalcanti Pessoa. E é isso. Deve fazer um tempo que você leitor não ouviu mais falar dessa história.
Passada a introdução, vou dar uma guinada nesse texto e voltar no passado uns dois anos, dois anos e pouco. Espero que consigam seguir comigo. Ainda trabalhava na redação de um grande jornal, quando resolvi vender uma reportagem sobre Cesar Vianna Junior, o delator de Sérgio Côrtes. Expliquei a história e tive a resposta da editora: “Isso é apenas uma ilação. Não vejo problema nisso. Se você descobrir que alguém está investigando, o Ministério Público, voltamos a conversar”. Faz parte do jogo. Era uma opinião que tinha de ser respeitada.
Pois bem, o ano agora é 2017, Cesar Romero delatou Côrtes, que foi preso. Então, queria compartilhar com meus dois leitores a minha ilação. Depois de deixar o governo, já envolvido em suspeitas, Romero tornou-se advogado de uma empresa chamada AVX Sistema de Gestão Integrada e Projetos.
A AVX é uma firma que tinha vários contratos com a Secretaria estadual de Saúde, local onde Romero trabalhou e comandou várias licitações. Impedida de participar de concorrências públicas até o meio deste ano por ter entrado no Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas, ela pertence a Affonso Carlos Villar Junior.
Junior é filho de Affonso Carlos Villar, dono da empresa Rufolo, que conseguiu alguns bons contratos com a Secretaria estadual de Saúde, quando Cesar Romero dava as cartas por lá. O delator de Côrtes chegou inclusive a ser condenado pelo TCE-RJ no ano passado a pagar uma multa de R$ 15 mil por irregularidade num contrato exatamente com a Rufolo.
Ou seja, resumindo: Romero passou a advogar para um grupo com o qual ele teve relação direta – e com suspeitas de irregularidades – na época em que atuava como servidor público. É ilegal? Não. É imoral? Creio que sim. Acho que isso deve ser exposto? Sim.
Antes de concluir, faço mais uma lembrança para quem ainda não se familiarizou com a Rufolo. Uma das representantes da empresa apareceu em 2012, no Fantástico, da TV Globo, numa sensacional reportagem de Eduardo Faustini, oferecendo propina a um repórter que se apresentou como representante de um órgão público que queria fazer uma licitação. Tudo foi gravado.
O que queria deixar depois desse texto todo é uma outra lembrança: apenas Côrtes e dois empresários estão presos pelos esquemas na Secretaria de Saúde, na primeira gestão de Sérgio Cabral. Apesar da relação muito próxima entre Cesar Romero, a Rufolo e a AVX não vi nada ainda sobre essas empresas por aí.
Talvez não interesse a Romero delatar nada relacionado a essas duas firmas. Talvez não haja nada. Da minha parte, fiz aqui minhas ilações. Quem sabe o Ministério Público se interesse em investigar algo por aí. Afinal, eles podem nos pautar, mas podemos tentar pautá-los também, correto?