Eike está de volta e Bretas pede para sair: o Brasil virtual não é para amadores

Comemorando os 30 mil seguidores (agora, já são 31,2 mil, na verdade), o juiz federal Marcelo Bretas encerrou esta semana sua conta no Twitter. Dias antes, um sentenciado por ele, Eike Batista, retornara à rede social. Graças a outro tuiteiro, o ministro do STF Gilmar Mendes, o empresário cumpre uma pena branda em casa pelas acusações de picaretagem envolvendo o quase zumbi Sérgio Cabral. Como o wi-fi no Leblon deve ser bastante eficiente, Eike está até postando vídeos no Instagram.

A reviravolta no mundo virtual é bastante emblemática. A lição que fica é aquela que ouvíamos desde a época em que usávamos mullets: não sabe brincar, não desce para o play.

Medalha na Câmara

Em setembro do ano passado, fiz um texto em The Intercept Brasil alertando para a ascensão de Bretas como o Robin que o Batman Sérgio Moro precisava na leva de super-heróis de toga que nos sobrou diante de uma classe política falida. Ali, já era possível perceber que a história não ia acabar bem.

Num curto espaço tempo, Bretas foi à Câmara Municipal do Rio receber uma medalha do vereador Otoni de Paula – um nobre representante evangélico no Legislativo que comunga com opiniões de Silas Malafaia e afins -; foi homenageado por artistas e recebeu um carinhoso perfil nas páginas de um grande jornal. Ainda ofereceu pipocas a Moro numa sessão de pré-estreia de um filme sobre a Lava Jato.

Sem entrevista com Cabral

Mas o que me marcou mesmo naquela época foi uma atitude de Bretas no tribunal: o magistrado virou as costas para os pedidos de dois repórteres investigativos que queriam entrevistar Sérgio Cabral. O ex-governador já vinha sinalizando que toparia. O juiz não viu nenhum benefício para a sociedade. Tudo que se deveria saber sobre Cabral estava nos autos.

Será que é assim? O Judiciário é um poder absoluto que esgota a possibilidade de benefícios à sociedade?Depoimentos de um ex-governador que arruinou o Rio a dois repórteres investigativos nada acrescentariam?

Volto a esse passado porque agora a lua de mel entre imprensa e os juízes super-heróis parece ter chegado ao fim. Com o auxílio-moradia na mira da sociedade, foram jornais e sites de notícias os que colocaram o dedo nas feridas de Moro, Bretas e outros tantos colegas de magistratura.

Que consequências teremos daqui para a frente? Será que o Judiciário terá distanciamento suficiente para analisar a imprensa e suas demandas quando for provocado? Se Lula – o maior troféu de Moro – for preso, poderá ainda de alguma forma ter voz na sociedade ou ficará condenado a só se manifestar pelos autos, numa pena de cárcere e silêncio?

Não há que se desprezar o trabalho de Moro, Bretas e seus colegas no combate à corrupção. Mas não são eles exatamente que deveriam se limitar aos autos, como se diz no jargão jurídico?

O mundo virtual não é controlado por uma caneta como os autos de um processo. O dilema entre o imoral e o ilegal pode gerar críticas longe de serem agradáveis.

Num processo, Bretas tem o poder de calar. No universo voraz de uma rede social se calou. E assiste ao retorno de Eike Batista sem muito poder fazer.

Nem o Brasil virtual é para amadores.

Um comentário

Deixe uma resposta