‘Potencial laranja’ nas eleições de 2018 foi nomeada por Bornier no governo Witzel

Apontada em reportagem publicada nesta sexta (15), na Folha de São Paulo, como uma “potencial laranja” – candidata usada em 2018 apenas para o cumprimento de uma cota de 30% de recursos eleitorais para mulheres -, a publicitária Amanda Siqueira Novaes, de 28 anos, foi nomeada no dia 9 de janeiro para um cargo de assessora na Superintendência de Desportos do Estado do Rio (Suderj).

A Suderj é um órgão do governo estadual subordinado à Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude. A pasta é comandada desde o início da gestão de Wilson Witzel pelo ex-deputado federal Felipe Bornier (PROS-RJ), que ficou apenas com uma vaga de suplente na Câmara nas eleições do ano passado. Amanda candidatou-se pelo mesmo partido de Bornier.

A publicitária chamou a atenção por ter recebido R$ 224,5 mil de verbas para a sua campanha, que teve, no fim das contas, um resultado pífio: apenas 200 votos. Ao todo, a Folha identificou 53 candidatos no país que receberam mais de R$ 100 mil e não passaram de mil votos. A maioria, 49, eram mulheres.

A maior parte do valor (R$ 217,5 mil) para a campanha de Amanda veio do Diretório Nacional do PT, já que o PROS participou da coligação “O povo feliz de novo”, em apoio à candidatura de Fernando Haddad. A publicitária ainda recebeu R$ 7 mil de Rosa Maria Bornier, parente de Felipe Bornier, a título de doação de assessoria contábil.

200 votos, 114 cabos eleitorais

Se fosse levada em conta a quantidade de material impresso contratado pela publicitária, sua campanha deveria ter sido intensa. Somente com a empresa 52 Gráfica e Editora, de Duque de Caxias, foram gastos R$ 112,5 mil. Ela confeccionou, por exemplo, 1 milhão de santinhos com seu nome.

Amanda ainda usou parte do dinheiro para o material gráfico de uma “dobradinha” com o candidato a deputado federal Rogério do Salão, também do PROS. Ele conseguiu 5.165 votos, apesar de sua arrecadação ter sido bem menor do que a da colega: R$ 53,5 mil.

Fora o material gráfico, a candidata também declarou em sua prestação de contas ter contratado 114 pessoas para trabalharem em sua campanha, pagando valores que variaram entre R$ 179 e R$ 1,8 mil. Ou seja, foram 114 cabos eleitorais que trabalharam para um resultado de 200 votos.

Outra candidata ganhou cargo

Além de Amanda, a reportagem da Folha citou como “potencial laranja” a também candidata a deputada estadual pelo PROS no Rio Marcele Rebelo Machado Toffano. Ela recebeu R$ 224,6 mil para a campanha e teve apenas 88 votos. O blog apurou que ela foi nomeada no dia 8 de novembro do ano passado no gabinete de Felipe Bornier na Câmara dos Deputados, até ele perder o cargo por não ter se reelegido.

Duas pessoas com o mesmo sobrenome de Marcele foram as que mais receberam entre as que trabalharam na campanha de Amanda: Nilceia Setti Toffano e Leandro Setti Toffano. Ambos ganharam R$ 1,8 mil pelo trabalho de coordenadores.

Sem campanha nas redes

Apesar do alto investimento na campanha, nas redes sociais, Amanda Novaes sequer mencionou sua candidatura, ao menos em posts públicos. No dia 29 de agosto, ela mudou a foto de capa para colocar o número de Felipe Bornier. Um amigo chegou a perguntar, com sorrisos, sobre o número dela, mas ficou no vácuo. O pouco que há sobre política são ironias e críticas a Jair Bolsonaro. Ah, há uma foto de laranjas. Mas só para ressaltar a importância do consumo de produtos orgânicos.

No Instagram, a última postagem da publicitária é uma foto na Secretaria de Esporte e Lazer, desta sexta, com os dizeres: “Escolha um trabalho que você ama e não terá que trabalhar nem um dia em sua vida”. Ela foi nomeada por Felipe Bornier como assessora do Departamento de Projetos da Vice-Presidência da Suderj.

O blog entrou em contato com a Secretaria de Esporte e Lazer, mas não teve retorno. O espaço, como sempre, está aberto para a manifestação de qualquer um dos citados.

*Foto em destaque: Antigo placar eletrônico do Maracanã, com os dizeres “Suderj informa” / Crédito: Reprodução de internet

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