Tendo como uma de suas principais bandeiras de gestão o combate à sonegação de impostos, o governador do Rio, Wilson Witzel, nomeou na Secretaria estadual de Saúde um empresário condenado em primeira instância, na comarca de Bananal (SP), por crime tributário.
Alçado ao cargo de subsecretário de Prevenção à Dependência Química no dia 1º de janeiro deste ano, Bruno Marini havia sido condenado em 5 de dezembro de 2018 a quatro anos de prisão por sonegação de ICMS, pelo juiz Daniel Calafate Brito, da comarca da cidade do interior paulista.
Na sentença, o magistrado converteu a pena em prestação de serviços à comunidade, que teriam que ser realizados durante o período de quatro anos. Marini ainda foi condenado ao pagamento de R$ 50 mil de multa. O empresário entrou com recurso, que será analisado pela 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo.
Olha a água mineral
Bruno Marini é diretor-executivo do Grupo Attiva, que atua principalmente no comércio de água mineral em cidades do Sul Fluminense. No caso em que foi condenado em primeira instância, a Justiça o considerou culpado pela omissão de notas fiscais de uma das empresas do grupo, com sede em Bananal (SP), num total de mais de R$ 730 mil, entre os anos de 2005 e 2006.
Atualmente, o empresário é quem coordena a política de prevenção às drogas dentro da Secretaria estadual de Saúde, tendo inclusive promovido, no fim de abril, um fórum para discutir o tema com a participação de deputados da base do governo, como Márcio Pacheco (PSC) e Danniel Librelon (PRB). Em abril, o salário de Marini foi de R$ 11,2 mil líquidos.
R$ 95 mil em dinheiro na campanha
Mas a condenação por crime fiscal não é o único problema no passado recente do subsecretário. Em 20 de fevereiro, Marini teve as contas de sua campanha a deputado estadual nas eleições de 2018 reprovadas pelo TRE do Rio de Janeiro. O empresário se candidatou pelo PSD, mas não conseguiu uma vaga na Alerj: teve 11. 716 votos.
No acórdão, relatado pela desembargadora Cristina Serra Feijó, as contas foram rejeitadas porque Marini fez uma série de depósitos em dinheiro vivo em sua conta de campanha, acima do limite diário permitido pela legislação, de R$ 1.064,10. No total, foram considerados irregulares R$ 95,4 mil em 98 depósitos de valores pequenos, mas que extrapolaram o volume diário permitido.
De acordo com os dados que constam no processo do TRE, em apenas um dia, 1º de novembro, já depois da eleição, Marini depositou R$ 43,9 mil.

R$ 512 mil debaixo do colchão
Apesar de ter tido as contas reprovadas, o atual subsecretário de Saúde não foi condenado à multa porque a Justiça entendeu que ele havia declarado ter valores compatíveis com os depósitos.
Mesmo sendo diretor-executivo do grupo de água mineral, Marini informou ao TSE não ter imóveis ou conta em banco. Ele declarou apenas uma participação de R$ 10 mil na empresa B. Marini Mineradora e R$ 512,3 mil em espécie.
Execução fiscal milionária no Rio
O empresário só consta oficialmente como sócio da B. Marini Mineradora. Mas, em ações trabalhistas de outras empresas ligadas ao grupo da água mineral Attiva, o subsecretário de Saúde é citado.
Uma dessas empresas é a Clalean Rio Administradora e Comércio de Sucos e Água, aberta em 2010, com sede em Barra Mansa, no Sul Fluminense. Na Justiça do Rio, ela tem três processos em andamento de execução fiscal, num total de mais de R$ 1,8 milhão. Em nenhum dos casos, a Procuradoria do Estado teve êxito até agora na recuperação dos valores.
Ex-candidato e sócio
De acordo com registros da Junta Comercial aos quais o blog teve acesso, em maio do ano passado, a Clalean passou a ter como sócios Gilmar Bernardino de Carvalho e Leandro Amaro Alves. Este último adquiriu R$ 500 mil do total de R$ 1 milhão em cotas da empresa de Bernardino no dia 25 daquele mês.
Leandro Amaro Alves foi candidato a vereador pelo PR na cidade de Bananal (SP) em 2016. Naquela ocasião, ele declarou ao TSE não ter nenhum bem. Sua campanha custou R$ 119,08, e ele conseguiu 24 votos.

Outra empresa relacionada a Marini e ao Grupo Attiva é a Hidromineral La Bananal, criada em 2009, na cidade do interior paulista. Ela aparece inclusive na prestação de contas da campanha do empresário a deputado estadual como fornecedora de R$ 9 mil em serviços de locação de carros.
Sócio fantasma?
Segundo consta no site da Receita Federal, a La Bananal tem como sócios Claudio Torres Medeiros e Silvio Ragi. Este último, sogro de Bruno Marini. Mas, numa decisão de um processo trabalhista publicada em 2013, consta que Ragi teria morrido em dezembro de 2010.
O blog questionou Bruno Marini a respeito de seu sogro, da propriedade das empresas ligadas ao Grupo Attiva e de seus processos fiscais, através da assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde, mas não houve retorno até a publicação desta reportagem. O blog também não conseguiu localizar outros parentes de Ragi.
Pré-candidato a prefeito
Além de ter tentado uma vaga na Alerj no ano passado, o empresário já havia se candidatado a prefeito de Barra Mansa, no Sul Fluminense, em 2016, ficando em terceiro lugar na disputa, com quase 9 mil votos.
Marini é apadrinhado político do deputado federal eleito pelo PSL, com 104 mil votos, delegado Antônio Furtado, de quem ele se diz amigo pessoal nas redes sociais.

Em entrevista publicada no dia 13 de maio no site “A Voz da Cidade” , especializado em notícias sobre o Sul Fluminense, Marini afirmou ser pré-candidato à prefeitura de Barra Mansa nas eleições de 2020.
*Foto em destaque: O governador Wilson Witzel ao lado de Bruno Marini / Reprodução / Facebook
quem conhece o Bruno jamais vota nele.