Secretário de Educação de Witzel cursou Harvard, mas não tem inglês fluente

Ao menos quando o assunto é Harvard, o secretário estadual de Educação, Pedro Fernandes, pode dizer que está na frente do chefe, o governador Wilson Witzel. Enquanto Witzel incluiu em seu currículo um curso que tinha a intenção de fazer, Fernandes efetivamente frequentou a universidade americana, em 2011. A questão que fica é saber se os frutos perduraram: o próprio secretário informa na plataforma Lattes que fala, escreve, lê e compreende inglês apenas “razoavelmente”. E pessoas próximas dizem que ele tem dificuldade de se expressar no idioma.

O atual secretário de Educação fez um curso de extensão de 360 horas (cerca de sete semanas) em Harvard, quando estava no primeiro ano do segundo mandato como deputado estadual. Para isso, teve que se ausentar para além das férias do Legislativo. Segundo sua assessoria de imprensa, ele tirou uma licença sem vencimentos na época. Nos currículos postados no LinkedIn e Facebook, Harvard é um dos destaques de Fernandes.

“Antropologia social e cultural”

A informação de que Fernandes frequentou a universidade americana foi confirmada ao blog pela assessoria de imprensa de Harvard. Foi relatado apenas, porém, que o secretário fez um programa de verão, em tempo integral, no IEL (Institute for English Language Learning – Instituto para Aprendizado de Língua Inglesa), sem especificar se o foco era no aprendizado do idioma ou em alguma outra área de conhecimento. A instituição alegou questões de privacidade para não passar mais detalhes.

Em seu currículo, o secretário informa que fez um curso de “antropologia social e cultural”. Na grade atual de extensão disponível no site de Harvard, o blog não localizou referência a um programa com este tema.

Cursos a partir de US$ 3 mil

As inscrições para os cursos de verão da universidade estão abertas, com mais de 400 opções disponíveis. O processo de inscrição parece simples, mas é preciso basicamente ter dinheiro no bolso. Em média, os preços começam em cerca de US$ 3 mil, fora os custos adicionais de moradia, alimentação etc.

Na página atual de inscrições para alunos estrangeiros, há referência à necessidade de comprovação de proficiência em inglês, conquistada por quem tem conhecimento avançado do idioma. A universidade não informou, porém, se, em 2011, no caso de Pedro Fernandes no IEL, foi necessária esta etapa do processo.

“I need to study more too”

Na sua página do Facebook, em 2011, Pedro fez referência à passagem pelos EUA, queixando-se às vezes da saudade do Brasil. Já de volta à terra natal, nos comentários de uma foto em que posou com a mãe, a vereadora Rosa Fernandes, ele conversa, em novembro daquele ano, com um ex-colega de curso, e diz que está precisando estudar mais.

Vendo os posts de 2011 do atual secretário de Educação, também é possível ver como a maturidade costuma ser uma benção.

Além de Harvard, constam no currículo de Pedro Fernandes um curso de Políticas Públicas na George Washington University, de 60 horas, em 2009, e outro semelhante na Universidade de Salamanca, na Espanha. Na plataforma Lattes, o secretário de Educação diz que compreende, lê, escreve e fala pouco espanhol.

“Conhecimento suficiente”

Através de sua assessoria de imprensa, Pedro Fernandes afirmou que “tanto em Harvard quanto em Salamanca, o conhecimento que ele tem dos idiomas foi suficiente, segundo critérios das próprias universidades, que o aprovaram”. Ele também disse que tem “tudo comprovado e documentado”. O blog pediu a documentação, mas ela não foi enviada. Também não foram dados mais detalhes sobre o conteúdo dos cursos.

Ironias na Alerj

O caso envolvendo a colocação de Harvard no currículo pelo governador rendeu esta semana na Alerj, e sobrou até para o deputado estreante na Casa Renan Ferreirinha (PSB). Ele efetivamente cursou Economia e Ciência Política por quatro anos, na universidade americana, com bolsa de 100% por necessidade financeira.

Ao questionar uma visita do secretário de Ciência e Tecnologia, Leo Rodrigues, a Mesquita, o deputado Luiz Paulo (PSDB) disse:

“Como tal, para fortalecer sua pré-campanha com o uso da máquina pública, (o secretário) levou o nosso eminente e diplomado governador por Harvard a Mesquita sem sequer comunicar a ida ao prefeito… Não acho que o governador fez de má intenção, porque ele, como foi colega do deputado Renan Ferreirinha em Harvard, seguramente aprendeu que não deve ferir os princípios democráticos e republicanos”.

Ferreirinha respondeu:

“Em quatro anos, eu não o vi no campus”.

*Foto em destaque: O secretário de Educação, Pedro Fernandes, ao lado do governador, Wilson Witzel, em lançamento de projeto da pasta / Divulgação / Governo do Estado

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