Ex-deputado Simão Sessim

Os tentáculos de uma família de Nilópolis que chegam ao governo Witzel

Um mês após assumir como governador do Rio, o ex-juiz federal Wilson Witzel nomeou o ex-deputado Simão Sessim para ser o representante do estado em Brasília. O octogenário político é de uma família que há décadas dá as cartas na política de Nilópolis, na Baixada Fluminense. Seu primo é o contraventor Aniz Abraão David, o Anísio.

O capítulo novo é que Sessim parece não ter vindo sozinho para o governo Witzel. Esta semana, assumiu como uma das diretoras do Procon-RJ a advogada Aparecida Maria Pereira da Silva Lopes. Em 2015, ela foi condenada, em primeira instância, à perda dos direitos políticos por três anos e ao pagamento de multa de cerca de R$ 100 mil num processo de nepotismo. O motivo: em 2009, foi nomeada pelo então prefeito de Nilópolis, Sérgio Sessim (filho de Simão Sessim), como subprocuradora do município. O problema era o fato de ela ser cunhada de Sérgio.

O processo ainda está em fase de recurso, mas a decisão em segunda instância não deve demorar a sair. Enquanto isso, ela passa a ocupar o cargo no Procon-RJ, no mesmo governo estadual que tem o pai de seu cunhado como um assessor estratégico. Deve receber cerca de R$ 12 mil mensais. Mas a história não termina aí.

O neto roqueiro

Além da advogada com o passado marcado pelo nepotismo, o clã de Nilópolis tem mais um jovem representante no governo do ex-juiz federal Witzel. Trata-se de Sérgio Simão Pereira Sessim, que ganha R$ 5,8 mil como assistente da Secretaria estadual de Ciência e Tecnologia.

Ele é neto de Simão Sessim. Foi nomeado em meados de janeiro, dias antes de o avô assumir o cargo de assessor do governo em Brasília. Apesar da função no estado, não há referência a esse trabalho na página do Facebook de Sérgio. Ele se apresenta como guitarrista da banda Folks.

Pelos registros de sua página, as últimas semanas do músico foram movimentadas. O auge foi a apresentação no palco Supernova do Rock in Rio, no dia 6 de outubro. O avô orgulhoso acompanhou tudo de perto.

Sérgio Simão Pereira Sessim com o avô Simão Sessim, no Rock in Rio / Reprodução / Facebook

A Secretaria de Ciência e Tecnologia disse, em nota, que não houve “interferência alguma” de Simão Sessim na nomeação de Sérgio. E afirmou que as publicações em redes sociais “tratam-se de um espaço pessoal”.

Apoio em outro cargo

Voltando ao caso da nova diretora do Procon-RJ Aparecida Maria Pereira da Silva Lopes, a autarquia também não confirma qualquer interferência de Simão Sessim na nomeação.

Mas o fato é que um registro público mostra que o ex-deputado apoiou recentemente a advogada na manutenção de uma outra função que ela ocupa no governo estadual há mais de uma década: a de vogal na Junta Comercial (Jucerja). O cargo de conselheira rende cerca de R$ 11 mil mensais líquidos.

Numa sessão pública realizada em julho passado, ela “registrou seus agradecimentos” a Simão Sessim “pelo apoio prestado aos vogais em Brasília”.

Nessa mesma sessão, o vice-presidente da Jucerja, Antônio Florêncio de Queiroz Junior, fez “um registro ao Colegiado de Vogais sobre inverdades que estão sendo divulgadas e que estão colocando em dúvida a integridade dos senhores vogais, como, por exemplo, de que os vogais não trabalham, momento em que foi aplaudido por todos”. O relato consta da ata da reunião.

Delação não deu em nada

Além de ocupar o cargo de representante do governo em Brasília, pelo qual recebe R$ 14,9 mil brutos, Simão Sessim também ganha aposentadoria de parlamentar. Nas eleições passadas, ele não conseguiu se reeleger. Teve 34.267 votos.

Em 2015, o primo de Anísio Abraão David foi citado numa delação premiada do doleiro Alberto Youssef como parte de um grupo de deputados do Partido Progressista (PP) que teria recebido uma mesada de propina entre R$ 30 mil e R$ 150 mil, relacionada ao esquema criminoso montado dentro da Petrobras.

Em junho de 2016, o ministro Teori Zavascki arquivou o inquérito no STF que investigava Sessim por falta de provas concretas. Outro procedimento, envolvendo o ex-deputado e seis colegas de partido, também tomou o mesmo rumo, em abril de 2018, nas mãos do ministro Edson Fachin.

Com a palavra, o Procon

Em nota, o Procon-RJ afirmou que “Aparecida Maria Pereira da Silva Lopes é advogada, pós-graduada em Direito Público e Privado pela Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (Emerj)”.

A autarquia disse ainda não ter “conhecimento de condenação ou qualquer outro fato impeditivo de a servidora citada exercer cargo público”. “Segundo a Chefe do RH do Procon-RJ, Aparecida apresentou certidões nada consta e assinou a declaração informando que não exerce cargo público, não acumulando função, e que não tem nenhum impedimento para exercer cargo público, firmando o termo de compromisso ético (Declaração de Ficha Limpa) no momento da nomeação”.

O Procon-RJ também informou que a advogada tem funções como implementação de núcleos regionais e municipalização gradativa das ações e que “vem desenvolvendo todas as suas atribuições” desde o dia 4 de novembro, quando foi nomeada.

Por fim, a autarquia disse que “se tiver conhecimento de algum fato ou decisão que impeça o exercício de cargo público, certamente, a servidora terá que deixar o cargo”.

*Foto em destaque: Simão Sessim em sessão em Brasília em abril de 2016 / Luis Macedo / Câmara dos Deputados

Um comentário

  1. Nada novo sob o céu. Essa família manda e desmanda na cidade e sempre esteve do lado dos poderosos e influentes. Além disso apoiaram a ditadura. Era óbvio que Simão não largaria o osso. E esse neto dele, que vergonha… banda de playboy pra playboy.

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