Só quem esteve do meu lado nos últimos tempos sabe o quanto estou me dedicando para seguir na profissão que escolhi para a minha vida. Completei no mês passado 20 anos de jornalismo. E 2019 vai ser o primeiro ano em que não sou remunerado pelo trabalho que faço.
Depois de tudo o que passei, em meados de 2018, na redação de um site em que estive, tinha tudo para largar de vez a carreira. Mas decidi catar os cacos e voltar sozinho com o Blog do Berta.
Não foi uma escolha fácil. Recomecei em fevereiro passado e, desde então, procuro publicar de duas a três vezes por semana matérias de qualidade, com foco no poder público no Estado do Rio de Janeiro. Parece simples ver uma reportagem no ar, mas é um investimento incessante de tempo, debruçado em documentos, apurando, apurando, apurando. E, depois, ainda traduzir tudo aquilo para o leitor.
Posterguei alguns sonhos pessoais, juntei as economias e apertei o orçamento aqui e ali para que eu pudesse ter algum tempo para me dedicar a consolidar e expandir o conteúdo do meu trabalho. Estou mais ou menos na metade deste caminho. Não sei o que acontecerá no fim, mas quis me dar essa oportunidade.
Consiga seguir ou não, é fato que sou um profissional melhor hoje do que era há pouco tempo atrás. Só isso já valeu muito.
Copia e cola
Há um ponto, porém, que volta e meia eu cito, e agora é o tema principal deste texto. Se foi positiva no sentido de ampliar as possibilidades de produção e consumo de informação, a internet se transformou num território voraz onde o conteúdo original, principalmente jornalístico, é cada vez mais raro. E cada vez mais desvalorizado.
Há sites acumulando altos índices de audiência, sem ter a mínima necessidade de ter um jornalista qualificado em seus quadros. Não estou nem falando de fake news. Estou falando mesmo de copia e cola. Ok, parte deles dá crédito, mas será que há algum estímulo à produção original? Creio que não.
Nas últimas semanas, passei a ser vítima direta desse problema. Foi criado um site apócrifo chamado “O Opositor”, que é basicamente um clone do meu blog, junto com o conteúdo de alguns outros sites. Copiam literalmente tudo: título, texto, fotos… Sem qualquer tipo de crédito.
Ainda tem esse banner no meio:

Investiguei o possível, mas não é fácil avançar. O site remete a outro de uma agência que obviamente não existe. Entrei em contato com o e-mail cadastrado no registro, mas, claro, não tive resposta.
Ainda estou avaliando as medidas jurídicas a tomar, mas resolvi escrever esse texto como um alerta: sempre que alguém compartilhar algo de “oopositor.com.br” (por favor, não cliquem), me ajudem a gritar que isso vem de alguém que está roubando o trabalho de um jornalista.
Poderia ficar quieto e não dar propaganda ao site, mas preciso me posicionar claramente contra algo que foi criado em cima do meu trabalho. E que, seja qual objetivo tiver, tenho certeza de que não é nobre.
Jornalismo com nome e sobrenome
Ainda não tenho uma grande audiência no Blog do Berta, meu trabalho é de formiguinha, de chegar dia após dia ao leitor que se interessa por saber o que realmente anda acontecendo com quem dá as cartas do poder no Estado do Rio. Não tenho robôs. A minha principal arma é a qualidade do trabalho que faço.
Fazer jornalismo investigativo e dar a cara não é fácil. Mas é necessário para dar credibilidade à informação que passo. Ao entrar no blog, o leitor vê lá a minha foto, pode ver um resumo com pontos importantes da minha carreira. Pode entrar em contato e é respondido rapidamente.
E essa é uma lição que a gente tem que ter em mente sempre. Ao compartilhar algo que você não consegue descobrir sequer quem escreve, você não tem nem como defender a informação que repassa. Seja você de que corrente ideológica for, está cometendo um ato irresponsável.
Dá um Google?
Para a nossa categoria de jornalistas, acho que já passou da hora de nos posicionarmos claramente contra esse mar de copia e cola e afins.
Ok, pode ser bom se aliar a gigantes como o Google e o Facebook em eventos, festivais e ações de marketing. Mas isso não pode fazer com que não critiquemos uma falta de posicionamento claro dessas empresas em relação aos conteúdos que disseminam.
Ah, mas há uma mobilização. Não tenho dúvida de que poderia haver muito mais.
Recentemente, li uma reportagem falando sobre uma iniciativa do Google que passaria a privilegiar os conteúdos originais nos rankings. Na prática, ainda não consegui ver nada disso. Pelo contrário, só vejo queixas de pessoas próximas que veem destacado no Discover, por exemplo, reportagens copiadas, de origem duvidosa ou mesmo falsas.
Como ler o original
Não queria ter que juntar a minha produção jornalística com um desabafo assim. Mas faz parte da luta de tentar não só sobreviver na profissão, como batalhar por alternativas diferentes dentro dela.
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Quanto mais gente acompanhar o trabalho, mais chance ele tem de sobreviver. E faço isso porque acho que especialmente o Rio de Janeiro, lugar onde nasci e escolhi viver, precisa de jornalismo.
Sigamos.
PS: Será que O Opositor vai copiar esse texto também? Manterei vocês informados.
Berta é dos melhores da sua geração. Tive o privilégio de ver seu trabalho de perto. E de ver que é injustiçado há muito tempo. Deveria ter ganho muitos prêmios (quando ainda existiam). Mas não desista Berta. Precisamos do seu talento
Paulo Motta
Não deveria ser tão difícil descobrir o responsável pelo site, que pode até ter objetivos eleitorais. O CNPJ da agência não diz nada?
Boa tarde amigo, também sou vítima desse tipo de coisa. Acho que você fez muito bem ao tornar público esse disparate anti ético. Um abraço e continue seguindo em frente com o seu magnifico trabalho.
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