Anunciada no início da gestão de Eduardo Paes como uma das grandes apostas no combate à Covid-19, a testagem relacionada a um sistema de autonotificação se tornou uma incógnita. Com números abaixo daqueles inicialmente previstos, a prefeitura do Rio deixou de incluir os dados sobre os exames nos últimos dois boletins epidemiológicos que são divulgados semanalmente pela Secretaria municipal de Saúde.
Nesta sexta (12), o blog enviou uma série de perguntas (íntegra no fim do texto) a respeito desses dados para a assessoria de imprensa da pasta, mas não houve resposta até o fechamento desta reportagem. Com isso, o que existe de mais recente é um quadro divulgado no boletim de 26 de fevereiro, que mostra que somente 6.108 testes de antígeno haviam sido realizados. Não fica claro se o número é referente apenas ao período daquela semana ou ao total realizado até aquele dia.

No dia 10 de janeiro, o próprio site da prefeitura havia publicado um texto afirmando que o objetivo era “testar inicialmente cerca de 450 mil pessoas, já a partir desta semana”. O release não especificava, porém, qual o prazo para que esta meta fosse cumprida, dizendo que mil pessoas seriam testadas por dia, “aumentando o total gradativamente”.
No dia seguinte, uma reportagem da TV Globo afirmou que a previsão da prefeitura era que fossem realizados 1,5 mil testes por dia em todas as unidades de saúde.
Abaixo da meta
Os números sobre os exames começaram a integrar os boletins epidemiológicos da prefeitura a partir da semana 4, com publicação em 29 de janeiro. Até então, 1.080 testes tinham sido realizados. No boletim de 5 de fevereiro, 2.135. No dia 12 do mesmo mês, 4.396. Em 19 de fevereiro, 5.027. No dia 26, 6.108. Nos dias 4 e 11 de março, nada mais foi divulgado.
Caso os dados sejam referentes ao acumulado, teria havido uma média de pouco mais de mil testes sendo realizados por semana, com um pico de pouco mais de 2.200. Caso os números sejam por semana, teria se chegado aos 6.108 na última vez em que houve divulgação, ainda assim abaixo da meta inicial.
Em janeiro, quando a prefeitura anunciou a iniciativa da testagem ligada à autonotificação, foi informado que 10 mil unidades do teste de antígeno haviam sido doadas por um grupo de empresários chamado União Rio. O blog questionou nesta sexta se houve alguma remessa posterior ou se havia algum outro estoque, mas também não obteve resposta.
Licitação suspensa
Levantamento feito pela reportagem em Diários Oficiais mostra que foi autorizado no dia 1º de fevereiro um pregão eletrônico com registro de preços para a aquisição dos testes. O valor total previsto era de até R$ 11,655 milhões. Nesta modalidade de licitação, o município compraria de acordo com a demanda podendo chegar à quantidade máxima estipulada.

No dia 25 de fevereiro, porém, foi publicada a suspensão do pregão, sem nova data estipulada.

O capítulo mais recente dessa história foi a publicação no Diário Oficial de 9 de março de uma convocação pública para pesquisa de mercado com empresas fornecedoras dos testes de detecção de antígeno. Não há a especificação de quantidade ou de valor total previsto. O prazo de entrega das propostas é 16 de março.

“Testagem é fundamental”
De acordo com o que a prefeitura havia anunciado em janeiro, os testes seriam realizados como parte de um projeto de autonotificação, em que cidadãos cariocas podem informar, através de um aplicativo, dados como peso, altura, CEP de residência, os sintomas que estão sentindo e em que data eles começaram.
Uma segunda etapa seria uma avaliação por um funcionário da Secretaria municipal de Saúde que indicaria, sendo o caso, um local próximo da residência para que a pessoa realize o exame. Os testes de antígeno têm alta precisão e o resultado é informado quase que imediatamente.
A testagem vem sendo destacada por especialistas como uma das medidas mais importantes na elaboração das estratégias de combate ao avanço do coronavírus. A própria intenção da prefeitura era fazer o rastreamento dos casos para auxiliar nas medidas de contenção.
Em audiência pública promovida pela Câmara do Rio esta semana, o diretor da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, Hermano Castro, reforçou o coro pela necessidade de testagem:
“O município deveria ampliar e informar como está esse processo, mas principalmente ter uma política de testagem mais ampla, isso é fundamental”.
Perguntas no ar
Abaixo as perguntas que foram enviadas para a Secretaria municipal de Saúde, sem resposta:
- Nos últimos dois boletins epidemiológicos publicados pela Secretaria municipal de Saúde foi suprimida a divulgação dos números de testes de antígeno aplicados assim como todo o quadro referente à autonotificação. Por que isso foi feito e quais os dados mais recentes de números desses testes assim como registros de autonotificação?
- Até o momento em que houve a divulgação, estaria havendo uma média semanal de pouco mais de mil testes aplicados. À imprensa, havia sido dito inicialmente que a previsão era aplicar 1,5 mil diariamente. Por que isso não ocorreu na prática?
- Qual o estoque atual de testes de antígeno que a secretaria possui? Os que vêm sendo utilizados são apenas os 10 mil que foram cedidos pela União Rio ou há mais?
- A secretaria fez um pregão para a compra desses testes que não se concretizou. Qual a previsão de compra e de que forma isso está sendo feito?
- Ainda há disponibilidade de testes em toda a cidade para os casos de autonotificação em que for detectada a necessidade?
- A autonotificação segue disponível em que plataformas? Está para celular Android? De que forma localizar?
- Como tem funcionado o acompanhamento desses casos? O que é feito exatamente?
*Imagem em destaque: Reprodução da capa do boletim epidemiológico da prefeitura do Rio