Será Witzel mais um a botar a culpa de tudo na mídia?

Muitos críticos do governador do Rio, Wilson Witzel, o comparam ao prefeito da capital, Marcelo Crivella. Em termos de (in)competência administrativa, ainda não há tempo para dizer. Mas, na minha humilde opinião, há uma diferença clara entre os dois: Witzel demonstra gostar do que está fazendo. E, acima de tudo, gosta de ter a sensação de que gostam dele. Quando isso se torna um defeito, o nome é vaidade.

Em pouco mais de dois meses à frente do governo do Rio, Witzel já tomou algumas atitudes folclóricas, como confeccionar a faixa a la presidente – com direito a foto no porta-retrato da cabeceira – ou as corridinhas e flexões com a tropa de elite da PM. Se parar por aí e as coisas melhorarem, no fim das contas, tudo vira motivo de piada. Não é nada, não é nada, e a faixa governamental já está fazendo sucesso na Saara neste carnaval.

Ok, houve vaias na Sapucaí, mas, enfim, qual político nunca passou por uma dessas? É quase um batismo na nova profissão.

Fiquei especialmente preocupado, porém, ao ver uma postagem do governador neste sábado, no Twitter:

Li e reli a reportagem de O Globo, reproduzida na página de Witzel, e não consegui entender a reclamação. No pé da matéria, há uma fala breve de um especialista, que nem vai muito além do óbvio: com um mês, é cedo para analisar qualquer política de segurança. Para o mal, ou para o bem.

É provável que a mágoa do governador tenha vindo do título, que deixou os dados positivos só para o texto. Mas definitivamente o jornal não fez o que Witzel diz que foi feito. Ao contrário dele próprio que, nos vídeos e postagens de suas redes sociais, simplesmente ignorou os dados negativos. Os positivos, ele capitalizou, dividindo os méritos com a intervenção federal.

A postura preocupa por abrir a porta para Witzel ser mais um a botar a culpa de tudo na “mídia”. Ao quebrar um pouco com o mundo perfeito do governador, o jornal virou incoerente e parcial. Nada como um dia após o outro, como mostram essas postagens de dias atrás, em que ele usa O Globo como referência:

É curioso também que o primeiro atrito entre Witzel e o jornal tenha vindo de uma informação de dentro do próprio governo. No início do mês, seu secretário de Desenvolvimento Econômico, Lucas Tristão, disse ao Globo que o estado está planejando a concessão de rodovias, incluindo a Linha Vermelha. E concessão significa pedágio.

A repercussão não foi boa. Witzel foi então às redes sociais. Em vez de desmentir o próprio secretário, usou o exemplo de um pequeno site, que reproduziu a notícia de forma equivocada, para cravar: “fake news”.

É curioso como o caso é bem parecido com o de Marcelo Crivella em início de mandato:

Mas que em seguida foi mais direto: desmentiu o seu então secretário e vice-prefeito, Fernando Mac Dowell.

Após dois anos de mandato, Crivella ainda se estranha com o Grupo Globo, mas já sem a mesma vontade. Nas últimas chuvas, deu entrevista até de madrugada.

Aguardemos os próximos capítulos para saber como se comportará o colega do Palácio Guanabara.

*Foto em destaque: Wilson Witzel concede entrevista coletiva / Crédito: Divulgação / Governo do Estado

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