Na sexta-feira passada (15), publiquei aqui no blog um post com o objetivo principal de aprofundar uma personagem do Estado do Rio que havia sido citada de passagem, no mesmo dia, numa reportagem da Folha de São Paulo sobre “potenciais laranjas” que legendas teriam utilizado só para cumprir a cota de recursos destinados a mulheres na campanha eleitoral do ano passado.
Meu foco foi o caso da publicitária Amanda Siqueira Novaes, candidata a deputada estadual pelo PROS. Sua campanha havia recebido R$ 224,5 mil para conseguir nas urnas apenas 200 votos. Para se ter uma ideia, ela contratou, por exemplo, 114 funcionários para obter esse pífio resultado. Descobri ainda que Amanda está agora nomeada no governo de Wilson Witzel: é assessora na Suderj. O órgão é subordinado à Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude, comandada por Felipe Bornier, um dos caciques do PROS na Baixada. Quem quiser reler a história, é só clicar aqui.
Pois bem, é justo que as atenções maiores em cima das supostas laranjas se concentrem em personagens nacionais. Os casos relacionados ao PSL, do presidente Jair Bolsonaro, acabaram esquentando a crise que culminou com a saída do ministro Bebianno. E o ministro do Turismo ainda balança para tentar explicar sua relação com as malfadadas frutas cítricas.
Mas peço a atenção do leitor para o Rio de Janeiro. E farei aqui um passo a passo para explicar as minhas razões.
Mais uma nomeada no governo
Antes de começar, permita-me só admitir uma falha. Além de Amanda, uma outra “potencial laranja” havia sido citada na matéria da Folha: a candidata a deputada estadual pelo PROS Marcele Rebello Machado Toffano. Ela também foi nomeada no governo Witzel, no dia 8 de janeiro, mas, num primeiro momento, não consegui captar. Na publicação no Diário Oficial, não constava o seu último sobrenome.
Em resumo, são duas, e não uma, as “potenciais laranjas” que foram nomeadas por Bornier no governo Witzel.
A mãe, o terceiro personagem
Passada essa introdução, queria me dedicar agora um pouco mais a Marcele e seu entorno para explicar por que acredito que os casos do Rio de Janeiro devem ser olhados com mais cuidado.
A candidata Marcele Rebello, só relembrando, teve apenas 88 votos, com uma receita de campanha de R$ 224,6 mil. A maior parte desse dinheiro (R$ 217,5 mil) veio da Direção Nacional do PT, partido que tinha coligação presidencial com o PROS. Seu principal fornecedor foi a empresa Copacabana Cotton Center (R$ 62,9 mil), que produziu milhares de santinhos, adesivos e afins. A firma prestou serviços para o gabinete de Felipe Bornier na Câmara em 2017, quando ele ainda era deputado federal. Até aí, nada de muito novo.
Vamos olhar agora, porém, para uma das certidões apresentadas por Marcele à Justiça Eleitoral e reparar no nome da sua mãe:

E é aí que entra um novo personagem, ainda não falado na história. Rosângela Motta Rebello Machado, mãe de Marcele, é a candidata a deputada federal pelo PROS em 2018 Rosangela Motta:

E a história da aposentada de 60 anos é ainda mais intrigante que a de sua filha. Para a sua campanha, Rosangela captou R$ 183,6 mil. A maior parte do dinheiro (R$ 175,7 mil) veio da Direção Nacional do PROS. E qual foi o sensacional resultado dela nas urnas? 67 votos.
O principal fornecedor da campanha da aposentada foi a empresa Nascimento Félix Propaganda e Publicidade: R$ 150 mil. Mas Rosangela não fez uma campanha suja, não, com gastos em santinhos e afins. Deu o dinheiro para que a firma cuidasse da divulgação de sua candidatura na internet, com criação de site, mídias sociais e afins.
O blog tentou, tentou, mas não conseguiu achar nenhuma pista que remetesse ao site de Rosangela para divulgar sua campanha. A referência mais próxima vista foi uma página com o endereço rosangelamotta.com.br, que está fora do ar atualmente. Ela teria sido criada, porém, em 24 de outubro do ano passado, depois do primeiro turno das eleições.

Mas foi possível achar uma página no Instagram: rosangelamotta.depfederal. Ali, houve quatro publicações, que foram feitas a partir de 3 de outubro, quando faltavam apenas quatro dias para a data da eleição. Há 11 seguidores. Numa das fotos, Rosângela come pastel com a filha. Com a imagem, ela ganhou uma curtida das quatro que teve no total.

Em outra publicação, mostra a sequência de uma caminhada com a filha e diz que vai rumo à vitória:

A história não para por aí. Ao todo, a Nascimento Félix Propaganda e Publicidade ganhou de 11 candidatos, em 2018, R$ 840 mil. Os dois que mais receberam foram os postulantes a uma vaga de deputado federal Nelson Bornier (que acabou tendo a candidatura indeferida), com R$ 200 mil, e Felipe Bornier, com o mesmo valor, que teve 18.775 votos, mas não conseguiu uma cadeira na Câmara.
O terceiro lugar, vejam só, com R$ 150 mil, foi de quem? Rosângela Motta, que teve, no fim das contas, os seus 67 votos. Para se ter uma ideia, ela gastou mais com essa empresa do que Romário, que foi candidato a governador do Rio.

Para encerrar a história, há mais um ponto. A Nascimento Félix Propaganda e Publicidade tem, segundo o site da Receita Federal, os mesmos sócios de uma firma de um ramo bem diferente, o de obras, a Tecniquatro.


De acordo com o site da Receita Federal, as duas empresas estão atualmente inaptas por omissão de declarações ao Fisco. Olhando para o passado da Tecniquatro, porém, foi possivel ver que a firma já teve ao menos um contrato com a prefeitura de Nova Iguaçu, quando Nelson Bornier estava à frente do Executivo da cidade, em 2002.

As prestações de contas das candidatas ainda estão sendo analisadas pelo Tribunal Regional Eleitoral.
O blog está sempre aberto para qualquer manifestação dos citados neste post.
*Foto em destaque: reprodução do santinho de Rosangela Motta, publicado em sua página no Instagram
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