Preso nesta quarta (13), no condomínio Vivendas da Barra, na Avenida Lúcio Costa, acusado do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, o sargento reformado da PM Ronnie Lessa parece ter melhorado bastante de vida nos últimos anos. Ou, ao menos, parou de se preocupar em não ostentar.
Em outubro de 2014, o policial declarou, num registro de ocorrência lavrado na 32ª DP (Taquara), ao qual o blog teve acesso, morar num apartamento simples no bairro do Pechincha, na Zona Oeste do Rio. Segundo anúncios na internet, uma unidade no Condomínio Residencial Henrique Costa, onde ele declarou residir à época, custa R$ 220 mil em média. No Vivendas da Barra, à beira-mar, onde o presidente Jair Bolsonaro também tem casa, o valor pode variar entre R$ 1,5 milhão e R$ 4 milhões.

O endereço no Pechincha foi dado no registro policial de um caso em que Ronnie imobilizou um homem que estava portando ilegalmente uma pistola num bar, no bairro do Anil. Ele chamou então o batalhão da área, que prendeu o suspeito em flagrante. O sargento reformado foi, posteriormente, testemunha de acusação neste processo.
Processos contra a imprensa
Ronnie ainda teve na Justiça dois processos nos últimos anos contra diversos veículos de imprensa, que noticiaram sua suposta ligação com o contraventor Rogério Andrade, ao mencionarem o caso do atentado que o policial sofreu, dentro do carro que dirigia, e que culminou com a perda de uma de suas pernas, em 2009. Em abril de 2010, o filho de Andrade morreu numa ação semelhante.
Numa das ações, ao julgar o pedido de indenização por dano moral de Ronnie improcedente, em novembro de 2014, o juiz Gustavo Quintanilha Telles chega a ser irônico ao mencionar o carro que o policial dirigia no momento em que houve a explosão da bomba: uma Toyota Hilux. Atualmente, para se ter uma ideia, o sargento reformado ganha cerca de R$ 7,4 mil.
“O autor é um policial militar que perdeu sua perna em um atentado, quando explodiu uma bomba em sua caminhonete Hilux. Sabidamente tal veículo é de alto luxo, com preço elevado, incompatível com os ganhos de uma policial militar. Todavia, em tese, é possível que o autor tenha economizado muito de seu soldo e feito um bom negócio, para conseguir comprar o veículo”.
O outro processo que Ronnie moveu contra veículos de imprensa foi extinto em abril de 2016 por um motivo curioso: o autor não informou o endereço onde morava.
Decreto prevê monitoramento de bens
Chama a atenção que o sargento aposentado, com salário de pouco mais de R$ 7 mil, tenha conquistado uma vida tão confortável sem que nenhuma autoridade detectasse nada de anormal. E o instrumento para isso existe. Em 2012, foi publicado um decreto que prevê a sindicância patrimonial de bombeiros, policiais civis e militares. O texto foi idealizado pelo então secretário de Segurança, José Mariano Beltrame.
O decreto prevê envio de declaração de bens não só dos servidores, como as de familiares, que poderia culminar em punição dos agentes que se recusassem a cumprir a determinação. Caso fossem detectados sinais de riqueza incompatíveis com a função poderiam ser abertos procedimentos administrativos disciplinares. O texto prevê que a Receita Federal, o Ministério Público e a Receita Federal teriam que ser informados.
Em 2014, a Associação de Delegados de Polícia do Rio (Adepol-RJ) chegou a conseguir na Justiça um mandado de segurança para derrubar o decreto. A decisão foi revertida pelo Estado em segunda instância, alegando que já havia passado o prazo para esse recurso, pois a norma era de 2012.
Durante a campanha, o governador Wilson Witzel chegou a ventilar a possibilidade da realização de testes de integridade de servidores, medida que não foi bem recebida por boa parte do funcionalismo. Resta saber se irá utilizar o instrumento que já existe mas que, com certeza, causará constrangimentos à categoria dos policiais, a quem ele tem se mostrado bastante próximo.
*Foto em destaque: O sargento reformado Ronnie Lessa, acusado do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes / Crédito: Divulgação