Presos por fraudes na Fundação Leão XII atuaram com Cristiane Brasil na prefeitura do RJ

Se a Polícia Civil e o Ministério Público quiserem saber mais sobre o passado recente dos personagens presos nesta terça (30) na Operação Catarata, que apura fraudes em licitações da Fundação Leão XIII, do governo estadual, um bom caminho é olhar para a Prefeitura do Rio. Mais especificamente para a Secretaria de Envelhecimento Saudável, pasta que, durante as gestões de Eduardo Paes, esteve sob a influência da ex-deputada Cristiane Brasil, filha de Roberto Jefferson.

Na operação desta terça, polícia e MP, com o apoio da Corregedoria Geral do Estado (CGE), apontaram que as empresas Servlog e Riomix teriam participado, com outras duas firmas, do conluio em licitações que colocou sob suspeita R$ 66 milhões em contratos da Fundação Leão XII. Entre as sete prisões, estão a de Flávio Salomão Chalud, sócio da Servlog, e a de Marcus Vinícius Azevedo da Silva, da Riomix. O que o blog descobriu foi que, como funcionário da Secretaria de Envelhecimento Saudável da prefeitura, Marcus Vinícius comandou um pregão vencido pela Servlog. E mais: também fiscalizou o contrato.

Dos dois lados do balcão

Ou seja, publicações que constam em diários oficiais e documentos em processos do Tribunal de Contas do Município (TCM) mostram que aqueles que são atualmente acusados de participar de um conluio de empresas no estado se relacionaram em lados opostos do balcão no município.

Veja os personagens marcados que assinam este documento, no fim de 2011, na licitação para a realização de um projeto chamado Qualimóvel, que oferecia atendimento oftalmológico, odontologia, massoterapia e clínica geral a idosos na cidade do Rio de Janeiro. A Servlog saiu vencedora.

E, para completar, agora confira quem fiscalizou o contrato da Servlog na Secretaria de Envelhecimento Saudável: Marcus Vinícius Azevedo da Silva.

R$ 20 milhões na prefeitura

Um levantamento feito pelo blog no site Rio Transparente mostra que a Servlog recebeu quase R$ 20 milhões da Secretaria municipal de Envelhecimento Saudável entre os anos de 2012 e 2017. Um dos contratos traz a assinatura de Cristiane Brasil junto com a de Flávio Salomão Chadud, preso nesta terça.

E as coincidências entre o grupo que atuava na Fundação Leão XII e os personagens da prefeitura não param por aí. Ao analisar os concorrentes para o projeto Qualimóvel no município, técnicos do TCM detectaram que uma das participantes, a Tercebras, anexou um documento que continha o mesmo CNPJ da adversária na licitação, a Servlog. O detalhe: a Tercebras e a Servlog foram alvos da Operação Catarata nesta terça por suspeita de conluio em certames do governo estadual.

No processo do TCM, quem respondeu pela prefeitura sobre a irregularidade questionada pela Corte de Contas foi exatamente Marcus Vinícius Azevedo da Silva, o então funcionário da Secretaria municipal de Envelhecimento Saudável que foi preso nesta terça pelas fraudes no estado. Ele alegou que não havia percebido a coincidência dos CNPJs da Tercebras e da Servlog. O tribunal acabou arquivando o caso.

Campanha de Cristiane Brasil

Coincidentemente, nos dias de hoje, as empresas Tercebras, Servlog e a Riomix, que tem como sócio Marcus Vinícius Azevedo da Silva, possuem suas sedes em salas vizinhas, no Shopping Downtown, na Barra da Tijuca. Segundo a polícia e o MP, no caso dos pregões eletrônicos da Fundação Leão XIII, as firmas teriam usado até o mesmo computador para atuar em conluio.

Funcionário de carreira da prefeitura, Marcus Vinícius passou vários anos na Secretaria municipal de Envelhecimento Saudável, enquanto a pasta esteve com Cristiane Brasil ou seus apadrinhados. O blog apurou no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que a empresa Riomix, que atualmente pertence a ele e mais um sócio também preso nesta terça, prestou serviços na campanha de 2014 em que Cristiane se elegeu deputada federal. Foi declarado um valor de R$ 64,8 mil.

O blog tentou contato com a ex-deputada através de um e-mail informado pelo diretório estadual do PTB, partido da qual é secretária-geral no Rio, mas não houve retorno.

Nomeado por vice de Witzel

Entre março e agosto de 2017, Marcus Vinícius esteve nomeado na Câmara Municipal do Rio pelo então vereador e atual vice-governador do estado, Cláudio Castro. Em janeiro deste ano, ele passou a ser lotado na 2ª Vice-Presidência do Legislativo carioca, que é ocupada por Zico, do PTB, mesma legenda de Cristiane Brasil.

Segundo o site da prefeitura, o salário do servidor que está cedido para a Câmara foi de R$ 4,9 mil líquidos em junho. O capital social de sua empresa, a Riomix, é de R$ 700 mil.

A Operação Catarata

Na Operação Catarata, deflagrada nesta terça, além de Marcus Vinícius e seu sócio Vítor Alves, foram presos Flávio Salomão Chadud e sua mulher Marcelle Braga, da Servlog; Bruno Campos Selem, da Tercebras; Daysy Luce Reis Couto e André Brandão Ferreira.

O esquema na Fundação Leão XIII também contaria com o Grupo Galeno, formando um conluio para burlar licitações de um projeto, chamado Novo Olhar, que deveria ter oferecido 560 mil armações de óculos, 560 mil consultas oftalmológicas e 560 mil exames de glicemia. 

A Polícia Civil e o MP pretendem continuar as investigações para apurar a possível participação de outros agentes públicos e políticos. Segundo o jornal O Globo, um dos alvos das apurações é o deputado estadual Sérgio Fernandes. Ele é apadrinhado do atual secretário estadual de Educação, Pedro Fernandes. O parlamentar foi presidente da Fundação Leão XIII por duas ocasiões, entre 2017 e 2018.

*Foto em destaque: Cristiane Brasil discursa no plenário da Câmara, em Brasília, em novembro de 2018 / Crédito: Leonardo Prado / Câmara dos Deputados

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