Sede administrativa da prefeitura do Rio

Mulher e irmão de chefe de RH têm ganhos turbinados na prefeitura do Rio

Bons cargos e ganhos turbinados por atuarem na realização de concursos do município. Esses são pontos em comum entre a servidora Barbara Carvalho Machado e o funcionário comissionado da Rio-Urbe (Empresa Municipal de Urbanização) Marcelo Ferraz Carneiro. E, além disso, os dois são, respectivamente, mulher e irmão do coordenador-geral de Recursos Humanos da prefeitura do Rio, Anderson Ferraz Carneiro.

Portais de transparência do Executivo carioca mostram que, juntos, Barbara e Marcelo já receberam, entre julho e outubro, mais de R$ 26 mil para colaborarem na realização de processos seletivos. O detalhe: o setor de concursos está sob o guarda-chuva de Anderson Ferraz Carneiro na prefeitura. Como mostrou o blog, o próprio coordenador de RH já acumula este ano R$ 97 mil em gratificações por motivo semelhante.

Em nota, a Secretaria municipal da Casa Civil negou qualquer irregularidade e disse que “os profissionais selecionados possuem experiência para atuar na execução de alguma etapa do concurso público” (íntegra no fim do texto).

Em setembro, R$ 30,4 mil

Barbara Carvalho Machado entrou na prefeitura do Rio como agente de administração, através de concurso, em julho de 2016. Em 25 de setembro deste ano, foi oficializado o fim do período de estágio probatório, que deu estabilidade à servidora. Seu salário-base é de R$ 1.021.

Apesar do pouco tempo nos quadros do município, ela vem conseguindo cargos comissionados que têm acrescentado um valor considerável em seus vencimentos. Em fevereiro de 2018, virou coordenadora na Comlurb. Em abril de 2019, passou a ocupar um cargo semelhante, mas no Riocentro.

O último degrau alçado foi virar assessora especial no Riocentro, em 2 de setembro, dias antes de o fim de seu estágio probatório ter sido oficializado. Em seu contracheque, ela está associada à empresa pública Rio Eventos, criada para promover ações de entretenimento e negócios na cidade. Em setembro, por exemplo, recebeu um total de R$ 30,4 mil brutos.

Deste valor, R$ 14.980 foram pagos de bônus pela atuação de Barbara na realização de concursos da prefeitura, nos meses de julho e setembro deste ano. Em julho de 2018, a agente de administração deu entrada na habilitação de casamento com o coordenador-geral de RH do município, Anderson Ferraz Carneiro. Nas redes sociais, o casal anunciou a união em setembro do ano passado.

Irmão gratificado

Já o irmão de Anderson, Marcelo Ferraz Carneiro, não é concursado. Em abril de 2017, ele foi contemplado pela primeira vez com um cargo de confiança de secretário na Rio-Urbe. Entre idas e vindas, continua na empresa pública até hoje. Pela função de assessor da presidência da companhia, recebeu, por exemplo, em setembro, R$ 11.634 brutos em vencimentos.

Chama a atenção ainda uma gratificação de cerca de R$ 3 mil que Marcelo ganhou em quase todos os meses deste ano, inclusive em maio, quando recebeu também as férias da Rio-Urbe no contracheque. O blog apurou que trata-se de um bônus pela participação na Comissão de Programação e Controle da Despesa (Codesp), colegiado ligado atualmente à Secretaria municipal de Fazenda.

Em 25 de abril do ano passado, o coordenador de RH Anderson Ferraz Carneiro havia sido nomeado como um dos representantes da Casa Civil exatamente na Codesp, o mesmo colegiado pelo qual o irmão teria recebido os bônus.

Mais um extra por processo seletivo

Em relação aos extras por atuar na realização de concursos, Marcelo não recebeu valores através de contracheques na prefeitura. Em consulta ao site Rio Transparente, o blog detectou dois pagamentos ao funcionário comissionado da Rio-Urbe via CNPJ. O total foi de R$ 11,5 mil pagos em 10 e 18 de outubro por “serviços de recrutamento e seleção por pessoa física”.

Na reportagem anterior do blog sobre as gratificações relativas aos processos seletivos, a Casa Civil havia afirmado que “concursos públicos da Prefeitura do Rio são realizados de forma centralizada, o que permite maior controle, segurança e economicidade, por não envolver terceiros”.

Em consulta a diários oficiais, o blog detectou ainda que Marcelo Ferraz Carneiro, além de receber pela atuação na realização de concursos, também tentou uma vaga este ano na prefeitura participando de um processo seletivo.

O irmão do coordenador de RH do município concorreu no concurso de professor adjunto de educação infantil. A última classificação o colocava em 1.288º lugar entre 1.861 candidatos da área da 7ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE). Ao todo, foram oferecidas 192 vagas. Marcelo zerou a prova de títulos.

Servidor desde 2002

Atual coordenador-geral de RH, Anderson Ferraz Carneiro, ingressou como agente de administração concursado na prefeitura em 2002. Foi durante a gestão de Marcelo Queiroz (PP) na Secretaria de Administração em 2015, porém, que ele começou a alçar voos mais altos no setor de RH do município. Em 2016, doou R$ 5 mil para a campanha de Pedro Paulo (atualmente no DEM) à prefeitura do Rio.

Conforme mostrou o blog, Anderson recebeu, entre outubro de 2018 e setembro deste ano, R$ 690,6 mil em vencimentos no Executivo carioca. Deste valor, R$ 97 mil foram somente devido a participações na realização de concursos.

Outra que recebeu altos valores foi a coordenadora técnica de Concursos, Daniela Aparecida Mattos de Rezende. Foram R$ 187 mil em gratificações este ano, sendo R$ 60,3 somente em maio. Luiz Tavares Neto, gerente na mesma coordenadoria, ganhou R$ 62,6 mil no mesmo mês, também graças ao bônus de processos seletivos.

A prefeitura alega que os funcionários trabalham fora do expediente e que a arrecadação com concursos supera os gastos com a realização dos processos seletivos em R$ 25 milhões este ano.

O que diz a prefeitura

Sobre as funções e ganhos de parentes de Anderson Ferraz Carneiro, a Secretaria municipal da Casa Civil enviou as seguintes respostas:

“No que diz respeito à servidora Barbara Machado, a mesma é concursada da prefeitura desde 2016 na área administrativa. De 2018 até o presente momento, ocupou dois cargos em comissão. O primeiro, na Comlurb, e atualmente no Riocentro. Todas as nomeações para ocupação em cargo comissionado ocorreram de acordo com os  conhecimentos e experiências na vida funcional e se deram por mérito, independente de estar ou não em estágio probatório e ainda de ser esposa de outro servidor desta prefeitura, que não possui qualquer gestão sobre os órgãos onde a servidora já trabalhou ou trabalha”.

E segue:

“Com relação ao servidor Marcelo Ferraz Carneiro, a Rio-Urbe, órgão ligado à Secretaria Municipal de Infraestrutura, Habitação e Conservação, informa que ‘mais uma vez, não há qualquer irregularidade nos fatos apresentados. O servidor em questão não tem nenhuma ocorrência que vá contra a ética e a dedicação necessárias ao serviço público'”.

A nota ainda reforça que Anderson “não teve interferência na nomeação” de seus parentes e que os profissionais selecionados para participar da realização de processos seletivos da prefeitura “possuem experiência para atuar na execução de alguma etapa do concurso público”.

*Foto em destaque: Sede administrativa da prefeitura do Rio / Ruben Berta

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