Escolhido pelo governador Wilson Witzel para assumir a presidência da Cedae, o engenheiro Renato Lima do Espírito Santo foi retirado de um cargo de primeiro escalão da empresa há menos de um ano, já durante a atual gestão. Ele era diretor de Saneamento e Grande Operação e deu lugar ao também engenheiro Alexandre Bianchini Antônio.
De acordo com a ata da reunião do Conselho de Administração da Cedae, de 13 de março do ano passado, Bianchini foi eleito para “substituir e complementar o mandato de seu antecessor (Renato)”.

Por sua vez, numa assembleia geral extraordinária realizada um dia antes de sua eleição para o cargo na Cedae, Bianchini renunciou ao cargo de diretor executivo da Concessionária Águas do Mirante, que explora os serviços de água e esgoto na cidade de Piracicaba (SP) através de uma Parceria Público-Privada (PPP).
Privatização em foco
O modelo adotado em Piracicaba vem sendo questionado por representantes da sociedade local, que angariaram no ano passado 4 mil assinaturas para que fosse realizada uma CPI na Câmara de Vereadores que investigasse os gastos do município com a concessionária.
Segundo reportagem publicada pelo Jornal de Piracicaba, de 2012 a 2018, foram gastos mais de R$ 307 milhões para a Águas do Mirante, com valores que aumentam ano a ano, apesar das queixas de que o serviço é caro e o esgoto não é 100% tratado.
Além da Águas do Mirante, Alexandre Bianchini Antônio também aparece em um processo trabalhista de 2017 ligado à F.AB. Zona Oeste S.A. A empresa é responsável pelos serviços de esgoto em 22 bairros do Rio de janeiro, que foram concedidos em 2012, durante a gestão de Eduardo Paes, por 30 anos.
Desde que a crise da água se intensificou, Wilson Witzel vem afirmando que a grande solução, ao menos para os problemas de saneamento, é a privatização da Cedae.
Ação trabalhista
Renato Lima do Espírito Santo fez carreira na Cedae desde a década de 1970. Apesar de ser o provável futuro presidente da empresa, ele move desde 2017 um processo trabalhista contra a estatal. Está marcada para o início de março uma audiência de conciliação entre as partes.
Curiosamente, o governo estadual afirmou que a reunião marcada para esta terça (11) será exclusivamente para tratar da escolha do novo presidente. Ou seja, a princípio, os cargos de diretoria estão mantidos.
“O governador Wilson Witzel, como representante do acionista controlador da Cedae, determinou a imediata demissão de Helio Cabral Moreira do cargo de diretor-presidente da empresa e indicou para sucedê-lo o engenheiro Renato Lima do Espírito Santo;
O governador também convocou, em caráter extraordinário, reunião do Conselho de Administração da Cedae para esta terça-feira para tratar exclusivamente da substituição do ocupante do cargo de diretor-presidente da companhia”, diz a nota do governo.
Diretor condenado pela CVM
Desde o início da gestão de Wilson Witzel, vem sendo dito que a Cedae é um feudo do cacique do PSC Pastor Everaldo, o que ele nega. Com a crise da água, a situação do presidente Hélio Cabral veio se tornando insustentável. Enquanto a população sentia a falta de qualidade nas torneiras, a estatal insistia em dizer que o líquido sempre esteve próprio para consumo.
Enquanto o foco está todo na demissão de Hélio Cabral, o blog também mostrou nesta segunda (10) que, desde o início do ano, a Cedae possui como diretor Financeiro e de Relações com Investidores José Bandeira de Mello Júnior, que foi condenado em 2004 pela CVM a ficar afastado de cargos de administração por três anos.
Bandeira de Mello foi apontado como um dos responsáveis por um empréstimo que lesou os cofres do Banco Econômico, que quebrou na década de 1990 deixando bilhões em dívidas para credores, que permanecem sem a perspectiva de ver o dinheiro até hoje.
*Foto em destaque: Estação de Tratamento do Guandu / Divulgação