Estação de tratamento do Guandu, que fornece água da Cedae

Órgãos do próprio estado rejeitam água da Cedae

Apesar de o governador do Rio, Wilson Witzel, ter afirmado no mês passado que a água da Cedae “nunca esteve imprópria para o consumo”, o produto fornecido pela empresa está sendo rejeitado dentro da própria estrutura do estado.

Documentos que constam de processos administrativos do governo mostram que funcionários de pelo menos três órgãos – Secretaria de Ciência e Tecnologia, Suderj e Instituto de Segurança Pública (ISP) – mencionaram a falta de qualidade do líquido oferecido pela Cedae para solicitar o fornecimento de água mineral.

O blog questionou o estado sobre alguma orientação padronizada em relação ao consumo nas repartições, mas não obteve resposta. O ISP também não deu explicações. Já a Secretaria de Ciência e Tecnologia e a Suderj enviaram notas pedindo desculpas pelo uso do argumento da falta de qualidade da água da Cedae nos pedidos de compra de água mineral.

Links para reportagens

Num estudo técnico que faz projeções para o consumo nos próximos 12 meses, concluído esta semana, funcionários da Secretaria de Ciência e Tecnologia apontaram a solução de compra de garrafões de 20 litros de água mineral como a melhor para atender a pasta.

Foram tidas como opções menos vantajosas filtro de barro, bebedouro de pressão e filtro de parede porque “carecem de fornecimento de água pela Cedae, incorrendo em custos (qualidade da água)”.

Colocando links de reportagens do G1 e do UOL, os funcionários acrescentaram que “atualmente, a qualidade de água da Cedae, está prejudicada, por diversos fatores, tais como”:

O custo estimado para a compra de 960 garrafões foi de R$ 9,6 mil.

Em nota, a secretaria afirmou que “a compra de água mineral se dá de forma contínua e rotineira há décadas, uma vez que fornecemos para os funcionários que atuam em atividades e ações externas. Sobre a justificativa usada para a renovação de compra de água mineral, trata-se de um argumento descabido, pelo qual pedimos desculpas. O estudo técnico preliminar citado será revisto”.  

Pedido de desculpas

Na Suderj, um documento de 12 de fevereiro, que trata da projeção de consumo para diversos itens, fala da necessidade de um depósito para a água mineral, “considerando a qualidade da água da Cedae”. O mesmo documento ainda pede a compra de 20 garrafões de 20 litros. Entre os outros itens pedidos estão seis ventiladores “considerando o calor infernal causado pelo não funcionamento do ar-condicionado do prédio”.

A assessoria de imprensa da Secretaria de Esportes, pasta a que a Suderj é subordinada, afirmou que “não houve compra de água mineral”. “O documento em questão é uma indicação para liberação de recursos, em andamento, a qual não será autorizada nos itens 4 e 5 (relativos à água mineral), visto que a justificativa não se fundamenta. Cabe ainda o pedido de desculpas e a confirmação de que será refeita a solicitação, sem os itens citados”.

Já no ISP, uma minuta de 12 de fevereiro, que pede a compra de 130 galões de 20 litros de água mineral, cita a crise no abastecimento da Cedae:

“Devido à contaminação das águas do Rio Guandu, que abastecem a cidade do Rio de Janeiro, por uma substância orgânica (geosmina) que deixa a água com condições inadequadas para consumo, a Gerência de Assuntos Logísticos estimou a quantidade de 130 galões de vinte litros de água mineral para atender ao consumo por dois meses pelos servidores”.

Vaquinha nos presídios

Situação mais crítica, porém, é a dos presos no Complexo Penitenciário de Gericinó. Gestores de pelo menos três unidades relataram, em ofícios internos, o temor em relação à interrupção do serviço de cantinas nos presídios durante o feriado de carnaval.

“Devido ao problema de água da Cedae, a grande maioria dos presos vinha se cotizando para compra de água mineral para consumo diário, e, em dias de visita, esta cantina é muito utilizada pelos familiares na aquisição de gelo para conservação dos alimentos trazidos pelos mesmos… Sendo que os familiares chegam de madrugada e permanecem no interior da unidade prisional até 16h. Lembrando que o calor de Bangu é elevado e que, sem refrigeração com gelo, os alimentos poderão estragar e assim causar transtornos a esta administração”, afirmou o diretor da Penitenciária Vicente Piragibe, Joseph Panema.

O diretor da Cadeia Pública Jorge Santana, Ivan Silva Junior, cita os “infortúnios públicos e notórios relacionados ao fornecimento de água da Cedae” para pedir uma solução em relação às cantinas.

A Secretaria de Administração Penitenciária não esclareceu se há possibilidade de se reverter o fechamento desses estabelecimentos durante o feriado para atender a demanda dos diretores.

Nas escolas, água da Cedae

Em janeiro, a Secretaria estadual de Educação chegou a cogitar a possibilidade de compra de água mineral para as escolas da rede. No início das aulas, porém, essa medida não foi efetivada. A pasta alegou que laudos técnicos da Cedae comprovam que o líquido fornecido pela empresa está próprio para o consumo.

Representantes da Defensoria Pública e da Cedae ainda discutem um acordo para que haja ressarcimento aos clientes prejudicados por receberem água com gosto e cheiro de terra. A expectativa é que nesta quarta (19) a empresa apresente um percentual de desconto.

*Foto em destaque: Estação de Tratamento do Guandu / Tomaz Silva / Agência Brasil

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