Cidade das Artes, sede da Riotur: dona de empresa acusada de pagar propina a Rafael Alves trabahou na empresa

Dona de empresa acusada de pagar propina a Rafael Alves teve cargo na Riotur

Apontado pelo Ministério Público como peça-chave de um suposto esquema de arrecadação de propina junto a fornecedores da prefeitura do Rio, o empresário Rafael Alves nunca teve oficialmente um cargo no município. Mas o mesmo não pode ser dito em relação à dona de uma empresa que, segundo os procuradores, teria repassado recursos ilícitos a ele.

Em pesquisa em Diários Oficiais, o blog localizou um ato do prefeito Marcelo Crivella, de 14 de agosto de 2018, designando Sabrina Gonçalves Alexandre Van Bavel para um cargo de assistente da Gerência de Administração da Diretoria Administrativa e Financeira da Empresa de Turismo do Rio, a Riotur. Ela permaneceu na função até 19 de junho de 2019.

A mesma Sabrina, por sua vez, é a atual dona no papel da Randy Assessoria Eireli. De acordo com o MP, essa empresa dava cheques a Rafael Alves “a título de pagamento de propina”. Esses cheques, por sua vez, teriam sido repassados para o doleiro Sérgio Mizrahy, que afirmou em delação premiada que transformava os valores em espécie, cobrando uma porcentagem de 7%.

A propina, segundo Mizrahy, seria uma compensação a Alves por pagamentos da prefeitura a companhias ligadas ao empresário João Alberto Felippo Barreto.

Irmão no comando

A presença de Sabrina nos quadros da Riotur ocorreu em parte do período em que o irmão de Rafael Alves, Marcelo Alves, foi presidente da empresa. Ele ingressou no cargo no início da gestão Crivella, em 2017, e só saiu em março deste ano, após a primeira fase da operação do MP e da Polícia Civil que aponta a existência de um “QG da propina” na prefeitura do Rio.

As investigações também demonstraram que o próprio Rafael Alves, mesmo sem cargo, usava uma sala na Cidade das Artes, onde fica a Riotur, para despachar. Uma testemunha ouvida pelo MP, o motorista de Sérgio Mizrahy, disse em depoimento que chegou a transportar dinheiro vivo para o local, próximo da época do carnaval.

De acordo com os procuradores, a Randy Assessoria Eireli faria os repasses a Alves condicionados à liberação de pagamentos da prefeitura para as empresas Claufran Segurança Patrimonial, Laquix Comércio e Serviços e Ambiental Service Limpeza e Conservação.

Nenhuma tem oficialmente entre os sócios João Alberto Felippo Barreto, mas consta na medida cautelar que o empresário teria admitido em março, na primeira fase das investigações, ser o proprietário de fato das companhias.

Na gestão Crivella, segundo levantamento do gabinete da vereadora Teresa Bergher, a Ambiental Service teve R$ 5,796 milhões pagos pela prefeitura. A Claufran, R$ 24,805 milhões. Com um detalhe: a empresa não tinha contratos anteriores a 2017. Já a Laquix teve R$ 25,318 milhões pagos.

Cheques por reais

Na medida cautelar, o MP afirma que Sérgio Mizrahy era amigo pessoal tanto de Rafael Alves quanto de João Alberto Felippo Barreto, “sendo certo ainda que em algumas oportunidades, Rafael Alves chegava a avisar ao colaborador as datas em que aconteceriam os créditos feitos pelo Tesouro Municipal nas contas das empresas administradas por João Alberto Felippo Barreto para que ele pudesse depositar os cheques que tinha em mãos, sem correr o risco de que fossem devolvidos sem fundos”.

As trocas de mensagens abaixo, do fim de 2017, entre Mizrahy e Alves falam dos cheques que teriam sido trocados para o empresário.

Juntas e misturadas

O blog também constatou que a Randy Assessoria Eireli – que teria realizado os repasses a Rafael Alves – responde a ações trabalhistas na Justiça do Rio em que constam como reclamadas a Claufran, a Laquix e a Ambiental Service, reforçando a tese de que as empresas fariam parte de um mesmo grupo.

Um desses processos, que começou a tramitar em fevereiro deste ano, traz ao menos duas curiosidades. O advogado de uma auxiliar de Departamento de Pessoal anexou documentos aos autos que mostram que ela foi empregada da Randy, mas teve a sua rescisão contratual paga pela Laquix.

E mais: afirmou ainda que setores da Laquix, da Ambiental, da Claufran e ainda de uma empresa chamada CHD Vigilância trabalhavam conjuntamente para todas.

A ex-funcionária ainda disse que recebia seu salário de forma fracionada, com atraso, algo comum em terceirizados que atendem ao Poder Público no Estado do Rio. E que, apesar de não aparecerem como sócios formais das empresas, eram João Felippo e seu irmão Pedro Ernesto que faziam os pagamentos dos salários, com porcentagem definida para cada um.

O processo ainda está em trâmite, tendo a última movimentação sido uma proposta de acordo por parte da autora, ainda não concretizada.

Outro lado

O blog entrou em contato por e-mail com a defesa de Rafael Alves, mas não obteve retorno. Também não retornaram por e-mail as empresas Randy e Ambiental Service. A reportagem não conseguiu contato com a Laquix – que consta com a inscrição suspensa na Receita Federal desde novembro do ano passado – nem com a Claufran.

A prefeitura do Rio se manifestou através da Riotur, que afirmou que as questões levantadas dizem respeito a Rafael Alves, que não é funcionário da empresa.

*Foto em destaque: Cidade das Artes, onde fica a sede da Riotur / Divulgação / Alexandre Macieira / Riotur

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