Dono de gráfica mais usada nas eleições de 2020 no RJ já foi detido dirigindo Ferrari bêbado

Dono de gráfica mais usada nas eleições no RJ é réu por dirigir Ferrari embriagado

Mesmo com a campanha eleitoral cada vez mais forte no ambiente virtual, as cenas de ruas e calçadas cheias de santinhos espalhados não sumiram nas eleições deste ano. E a gráfica que mais lucrou com o comércio de material para os candidatos no Estado do Rio pertence a um empresário que já apareceu no noticiário policial.

Trata-se de Marcos Alexandre Barros Rodrigues, que divide com a mulher a sociedade da Apel Gráfica e Editora LTDA, com sede em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que a empresa tinha até a última terça (17) R$ 3,175 milhões em contratos com mais de 180 candidatos, além de diretórios partidários.

Em outubro de 2016, Marcos Alexandre ficou conhecido após ter sido flagrado no Jardim Oceânico, na Barra da Tijuca, dirigindo embriagado uma Ferrari em zigue-zague. Logo atrás, vinha seu filho menor de idade, que guiava um Porsche. Ao ser abordado por PMs, o empresário ameaçou os policiais, foi detido, e liberado após o pagamento de fiança de R$ 20 mil.

Nas eleições deste ano, a Apel Gráfica foi a segunda empresa que mais recebeu recursos no Estado do Rio entre todas as cadastradas no sistema do TSE. Só perde para a agência de propaganda Rio2020 Publicidade, responsável pela campanha do ex-prefeito Eduardo Paes, com R$ 4,360 mil até agora.

“Você não sabe quem eu sou”

O caso do flagrante do empresário dirigindo embriagado foi noticiado por diversos veículos à época. Uma equipe da Rede TV! inclusive acompanhou os policiais no momento da abordagem, para um episódio do programa “Operação de Risco”.

Reportagem do Bom Dia Rio, da TV Globo, mostrou uma gravação em que Marcos Alexandre tentava intimidar os PMs que o levaram para a delegacia:

“Vou pegar pro resto da minha vida no teu pé, tô te falando, cara. Você não sabe quem eu sou, cara. Eu sou empresário, olha só, de aeroporto. Eu tenho táxi aéreo. Eu tenho empresa de gráfica, eu tenho empresa de consultoria de policiais, de policiais, cara! (…) Você vai ver para onde vou te mandar. Vou te mandar para o Amazonas”.

Um vídeo divulgado no YouTube também traz um trecho da discussão envolvendo um PM, o empresário e o filho dele.

“Deputados e coronéis”

Em maio de 2017, a 17ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça recebeu a denúncia oferecida pelo Ministério Público contra Marcos Alexandre. Ele responde por conduzir veículo sob a influência de álcool ou substância psicoativa (artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro).

Na decisão judicial, foi ressaltado que o exame de embriaguez e capacidade psicomotora feito à época deu positivo. Também foram citados depoimentos de testemunhas que reforçaram os relatos das ameaças feitas após a abordagem dos policiais.

Uma delas relatou que o empresário “estava bastante alterado” e falou para um dos PMs que “se ele o levasse até a delegacia o perseguiria até a morte, dizendo que conhecia deputados e coronéis”.

Uma pessoa que foi identificada como tenente-coronel Marcelo Cesário tentou intervir e fazer com que o registro da ocorrência não fosse realizado. À época, a PM informou que seria aberto um procedimento de investigação contra o oficial.

Nesta terça (17), a assessoria de imprensa da corporação confirmou (íntegra no fim do texto) a existência do procedimento que ainda aguarda parecer da Justiça Comum para ser concluído.

26 partidos

Entre os que utilizaram os serviços da Apel Gráfica e Editora há candidatos de 26 partidos. O que mais contratou a empresa foi Rogério Lisboa, do Progressistas, que foi reeleito prefeito de Nova Iguaçu, com 62% dos votos. No total, os gastos foram de R$ 369,5 mil.

Em seguida, vem Nelson Ruas, o Capitão Nelson, do Avante, que disputará o segundo turno, em São Gonçalo: R$ 285,3 mil. Depois, aparecem Cristiano Santos (PL), derrotado na eleição para prefeito em Belford Roxo, com R$ 284,7 mil, e a direção municipal do PSL no Rio de Janeiro, com R$ 259,1 mil.

Levadas em conta todas as empresas que prestaram serviços no país nas eleições municipais, a Apel Gráfica é a 13ª, segundo ranking divulgado pelo TSE. Em 2018, a companhia havia sido a 14ª colocada, com R$ 7 milhões. Naquele pleito, o então candidato a governador Eduardo Paes foi o que apareceu com mais gastos: R$ 2,720 milhões.

Medalha Tiradentes

Meses antes de ter sido flagrado dirigindo uma Ferrari embriagado, Marcos Alexandre Barros Rodrigues havia sido homenageado com a Medalha Tiradentes, maior honraria da Assembleia Legislativa do Rio. A autoria foi do deputado Marcos Muller, atualmente no Solidariedade.

Já em 2018, ele recebeu uma moção da Câmara do Rio, de autoria de Eliseu Kessler (PSD). “É meu dever neste momento ímpar reconhecer e homenagear figura da sociedade que tem demonstrado uma liderança inconteste, sendo visível sua competência e destaque”, afirmou o vereador no texto da homenagem.

Somente entre 2016 e 2017, a Ferrari do empresário registrou 29 multas, segundo o site da prefeitura do Rio. Todas elas foram pagas. A maior parte foi referente a infrações médias, mas houve caso de gravíssima, como um avanço de sinal vermelho na Avenida das Américas, em maio de 2017.

Dívida com a União

No início deste ano, a União entrou com uma ação na 2ª Vara Federal de São João de Meriti cobrando uma dívida de mais de R$ 2,7 milhões da gráfica. O processo no entanto foi suspenso após a empresa conseguir um acordo de parcelamento.

A Apel Gráfica também responde a uma série de ações trabalhistas. De acordo com os registros na Junta Comercial do Rio, a companhia, que já se chamou Padrão Color, tem capital social de R$ 400 mil. Além da matriz, em São João de Meriti, possui outras sete filiais, duas fora do estado, em Vitória (ES) e Juiz de Fora (MG).

O blog tentou contato com Marcos Alexandre Barros Rodrigues através do escritório que o representa no processo a que responde por ter dirigido embriagado, mas não houve retorno. O espaço segue aberto.

Sobre o caso, a assessoria de imprensa da PM enviou a seguinte nota:

“Os policiais militares do 31° BPM (Barra da Tijuca) que assumiram a ocorrência realizaram um trabalho dentro das normas preconizadas pela instituição, não se deixando influenciar pela conduta do tenente-coronel (Marcelo Cesário), conduzindo as partes à delegacia.

Na época, o oficial já estava na reserva da corporação, ato que foi homologado em outubro de 2012. Um procedimento apuratório foi aberto pela Corregedoria de Polícia Militar onde a apreciação da conduta do Tenente Coronel está sobrestada aguardando parecer da Justiça Comum a ser emitido pela 9º Juizado Especial Criminal do Rio de Janeiro”.

*Foto em destaque: Policiais militares fazem abordagem ao lado da Ferrari do empresário Marcos Alexandre Barros Rodrigues / Reprodução / YouTube

Deixe uma resposta