Coronavírus: governador Cláudio Castro descarta medidas restritivas

Ao descartar restrições, Cláudio Castro vai contra técnicos da própria Secretaria de Saúde

Ao anunciar nesta quinta (3) que não tomará medidas de restrição de circulação mesmo diante do aumento de casos de coronavírus, o governador em exercício do Rio, Cláudio Castro, vai contra as recomendações de profissionais da própria Secretaria estadual de Saúde.

A última nota técnica emitida pela pasta, de 25 de novembro, assinada pela subsecretária Extraordinária de Covid-19, Flávia Regina Pinho Barbosa, e outros seis servidores, pedia para que houvesse retrocesso na liberação de atividades em quatro regiões: Baía da Ilha Grande, Médio Paraíba e Metropolitana 1 (faixa laranja, risco moderado), além da Metropolitana 2 (faixa vermelha, alto risco).

A região de maior risco até então englobava os municípios de Itaboraí, Maricá, Niterói, Rio Bonito, São Gonçalo, Silva Jardim e Tanguá. Mas também houve recomendação de restrições para a Metropolitana 1, onde estão a capital e mais 11 cidades da Baixada Fluminense.

É bom lembrar que nos últimos dias a situação só vem se agravando: em 25 de novembro, a fila de espera por um leito de UTI estava em 118 pacientes em todo o estado. Nesta quinta, chegou a 230, segundo o Painel da Secretaria de Saúde.

Os quadros abaixo mostram a evolução do Mapa de Risco de julho a novembro:

Sem atividades escolares

Mesmo com o quadro do fim do mês passado, a nota técnica já indicava uma “grande pressão no sistema de Saúde, com taxas de ocupação acima de 70%, beirando o colapso na capacidade assistencial” em dez cidades: Bom Jesus do Itabapoana, Sapucaia, Rio das Ostras, Teresópolis, Resende, Rio de Janeiro, São Gonçalo, Rio Bonito, Maricá e Niterói.

Ainda não houve uma atualização mais recente da nota técnica estadual, mas na capital, por exemplo, há 99% de ocupação dos leitos de coronavírus da prefeitura e 92% na rede regulada do SUS no município.

Já no dia 25 de novembro, a equipe da Secretaria estadual de Saúde recomendava para o Rio de Janeiro e cidades da Baixada a adoção de medidas como “suspensão de atividades escolares presenciais” e “proibição de qualquer evento de aglomeração, conforme avaliação local”.

Também foram indicadas a “avaliação da suspensão de atividades econômicas não essenciais, com limite de acesso e tempo de uso dos clientes, conforme o risco no território” e a possibilidade de “adequação de horários diferenciados nos setores econômicos para reduzir aglomeração nos sistemas de transporte público”.

No caso das cidades que estavam em risco vermelho, o relatório pedia não só a avaliação, como efetivamente a suspensão de atividades econômicas consideradas não essenciais.

Comitê científico

A mesma linha de recomendação de restrições foi adotada pelo Comitê Científico da prefeitura do Rio, em reunião realizada nesta quarta, cujo teor foi publicado nesta quinta em Diário Oficial.

Neste caso, foram recomendadas as seguintes medidas:

• Horários de funcionamento de bares e restaurantes até 22h;
• Vedada pista de dança;
• Lojas de comércio de rua e de shoppings, incluindo galerias e centros comerciais, com horário de abertura às 11h e horário de fechamento livre;
• Escolas e creches municipais e as creches conveniadas fechadas;
• Eventos em geral vedados;
• Feiras de negócios e exposições vedados;
• Vedada a permanência na praia (areia) e o banho de mar. Vedada a prática de atividades esportivas individuais e coletivas;
• Adoção de medidas de fiscalização e diminuição da lotação de ônibus, BRT e VLT para até 50% da capacidade, mantendo em uso toda a frota de ônibus, com o objetivo de reduzir a quantidade de passageiros, bem como vedar o transporte de passageiros em pé;
• Restrição do uso de áreas comuns de condomínios destinadas a festividades e reuniões, bem como piscinas e saunas, mantido o funcionamento das academias.

Rede particular

No caso da reunião do comitê da prefeitura, houve a presença de representantes da rede particular que também reforçaram a gravidade do quadro atual.

Um representante da Unimed afirmou que “o cenário em sua rede de unidades é de grande pressão, com número de atendimentos maior que os registrados em abril e maio deste ano e grande demanda por internações de clínica médica e UTI SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave).

Já o da Rede D´Or disse que “houve um aumento nas ultimas quatro semanas, inicialmente em pacientes menos graves e atualmente pacientes mais graves”, ressaltando que “ainda não é semelhante ao pico de abril e maio, que, em volume de pacientes internados, registraram cerca de metade dos atendimentos em comparação com o período de maior incidência”.

“Fila não é tão grande”

Além do comitê da prefeitura e dos técnicos da Secretaria estadual de Saúde, a Fiocruz também emitiu nota técnica alertando que a rede de Saúde Pública da capital já está em colapso.

Nesta quinta, o governador em exercício Cláudio Castro e o prefeito Marcelo Crivella se reuniram, mas não anunciaram nenhuma medida de restrição.

Castro disse inclusive categoricamente que não irá dar nenhum passo atrás na liberação de atividades. Nesta sexta, devem ser anunciadas iniciativas para o aumento de leitos e reforço na fiscalização de aglomerações.

O governador afirmou ainda que “a fila (para uma UTI) não é tão grande quanto parece” já que “há UPAs que hoje têm equipamentos quase de CTI”.

A fila, segundo o painel do próprio governo estadual, estava em 230 pacientes nesta quinta.

*Foto em destaque: Governador Cláudio Castro assina escritura de terreno para a construção de Complexo de Biotecnologia da Fiocruz / Divulgação / Eliane Carvalho

Um comentário

Deixe uma resposta