No Twitter, Witzel cita polícia 435 vezes. Educação, 24

Caía a tarde desta terça (14) quando os sites de notícia começavam a informar a morte de mais um inocente no Rio de Janeiro. A vítima da vez era o professor de jiu-jítsu Jean Rodrigo da Silva, atingido por um tiro na cabeça, no Complexo do Alemão, onde dava aulas em um projeto social. Testemunhas acusaram a polícia de efetuar os disparos.

Não mais do que duas horas depois, o governador Wilson Witzel usou as redes sociais para falar sobre a PM do Rio. Sem qualquer referência ao caso do Alemão, postou o link de uma reportagem sobre uma operação do Bope em Angra dos Reis. E escreveu:

“A @PMERJ segue cumprindo seu papel de servir e proteger a população. Parabéns aos nossos heróis que encaram o perigo diariamente para garantir a nossa segurança. O estado do Rio de Janeiro não vai desistir do combate ao crime organizado”.

Quase 24 horas depois da morte, às 13h50m de quarta (15), minutos antes desta postagem do blog, veio a manifestação do governador:

“A morte do professor Jean Rodrigo da Silva é uma tristeza. Quero manifestar à mãe Sandra Maria meu profundo sentimento pela perda. Essa morte não ficará impune e será investigada com rigor”.

Mais combate, menos educação

Um levantamento feito pelo blog em cima dos tweets postados pelo governador nos cinco primeiros meses de sua gestão mostram que Witzel focou suas atenções nos elogios à polícia. Sete termos (Pcerj (abreviação de Polícia Civil), PM, PMERJ, PMs, polícia, policiais e polícias) receberam um total de 435 menções na rede social. O termo “segurança” foi usado 148 vezes e “crime/criminalidade”, 94.

Somente as referências à polícia já superam de longe outro grande tema que aflige os fluminenses: a saúde. Os termos “hospital, médico, médica e saúde” somaram 149 menções. “Educação“, por sua vez, foi um termo ainda menos usado pelo governador: apenas 24 vezes. Para se ter uma ideia, a palavra “combate” foi usada mais do que o dobro de vezes: 56.

Abaixo, a nuvem com as cem palavras mais usadas por Witzel no Twitter:

Em menções únicas, sem somar termos relacionados, a expressão “equipewitzel”, usada como marcação nas postagens, é a que mais aparece: 648 vezes. Em seguida, vêm “Rio” (330); “estado” (305); “não” (238); “população” (188) e “governador” (183). Logo depois, já aparecem “pmerj” (150) e “segurança” (148).

Vídeo com deputado PM

Nesta terça, além da postagem sobre a operação em Angra, o governador ainda publicou um vídeo ao lado do deputado estadual Gil Vianna, do PSL, que é policial militar. Ao lado de outros PMs, Witzel elogiou uma apreensão de drogas em Campos, cidade que é base eleitoral de Vianna.

Em outro caso emblemático de violência no Rio de Janeiro, o fuzilamento de um músico por militares do Exército, no mês passado, na Zona Oeste do Rio, Witzel também demorou a se manifestar publicamente sobre o caso. No dia 7 de abril, quando ocorreu a morte, o governador postou um vídeo de um PM ajudando uma senhora a atravessar a rua.

A própria foto de capa do governador no Twitter o mostra como uma espécie de comandante da tropa:

O primeiro trimestre de 2019 registrou o maior índice de mortes pela polícia para o período em 21 anos. Foram 434, ou o equivalente a 4,82 por dia. Na atitude que gerou mais polêmica, o governador Wilson Witzel chegou a participar de uma operação aérea da polícia em Angra.

O fato serviu de estopim para uma denúncia da deputada estadual Renata Souza (PSOL) à ONU contra a política que vem sendo aplicada pelo governador na área de segurança.

Witzel e sua bancada reagiram, pedindo a cassação da parlamentar. O presidente da Alerj, André Ceciliano (PT), já se manifestou, dizendo que não vai dar prosseguimento ao pedido.

*Foto em destaque: Governador Wilson Witzel recebe medalha da PM do Rio / Reprodução / Twitter

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