Hospital de Campanha do Riocentro, uma das unidades onde Bruno Kopke tem cargo

Ex-conselheiro de OS ganha R$ 31 mil em 2 cargos na prefeitura do Rio

Membro do Conselho de Administração da Organização Social Centro de Excelência em Políticas Públicas (CEPP) entre novembro do ano passado e abril deste ano, o médico Bruno José da Costa Kopke Ribeiro também vem atuando dentro da prefeitura do Rio.

De acordo com o site que disponibiliza a remuneração dos servidores do município, o profissional recebeu em setembro R$ 31,3 mil brutos em dois cargos na RioSaúde, empresa pública que faz a gestão de unidades.

A assessoria de imprensa da RioSaúde alegou em nota (íntegra no fim do texto) que o médico “atua atendendo pacientes no Hospital de Campanha, no Riocentro, e na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Paciência” não tendo “qualquer cargo comissionado ou de gestão, mas sim cargo assistencial, sendo que os contratos de trabalho são temporários”.

O caso chama a atenção porque o CEPP possui contratos milionários com a prefeitura. Somente este ano, foram pagos para a OS R$ 133,7 milhões pela Secretaria de Saúde, de acordo com levantamento feito pelo blog no site Contas Rio. O valor é recorde desde 2011, quando a entidade começou a atuar na administração de unidades da capital fluminense, ainda com o nome de CEP28.

Cargos ao mesmo tempo

E, ao menos entre janeiro e abril deste ano, Bruno Kopke teve cargo na prefeitura enquanto era membro do Conselho de Administração do CEPP. Na virada de 2019 para 2020, quando a RioSaúde assumiu a UPA de Paciência, ele passou a ser contratado pela empresa pública, com remuneração de cerca de R$ 15 mil brutos. Anteriormente, trabalhava na unidade vinculado a uma outra OS.

No Conselho do CEPP, ele foi empossado em 29 de novembro do ano passado para um mandato que teria duração até 16 de julho de 2023. No entanto, em 16 de abril deste ano, apresentou uma carta de renúncia “por razões de foro íntimo” que o impediam de “realizar as atribuições momentaneamente”.

Antes de o médico se afastar da entidade, a OS assinou ao menos um termo aditivo com a prefeitura, no dia 13 de março, no valor de R$ 30,3 milhões, para a manutenção do programa Cegonha Carioca, com foco em ações de pré-natal.

No dia 20 de maio, Bruno Kopke passou a exercer o outro cargo, no Hospital de Campanha do Riocentro, também com remuneração de cerca de R$ 15 mil mensais.

Em buscas no Diário Oficial, porém, seu nome aparece na edição do dia 29 de junho, quando foi dada publicidade à solicitação de sua convocação, mas com data retroativa a 1º de maio.

R$ 820 milhões pagos

Segundo a assessoria de imprensa da RioSaúde, numa matrícula, o médico faz 30 horas semanais, de segunda a sexta-feira, no atendimento a pacientes internados por Covid-19 no Hospital de Campanha. Na outra, o profissional tem carga horária de 24 horas semanais (dois plantões noturnos de 12 horas às terças-feiras e aos domingos) na UPA de Paciência.

Os dados que constam no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) mostram apenas dois vínculos do profissional: um de 36 horas na UPA de Paciência e outro de seis horas numa empresa chamada Attendance Care, com sede em Nova Iguaçu.

O CEPP, OS em que Bruno Kopke atuou como conselheiro, começou a receber recursos da prefeitura do Rio em 2011, durante a gestão de Eduardo Paes. Naquele ano, foram R$ 12 milhões. Ao todo, até 2016, a entidade foi contemplada com R$ 414,7 milhões. Neste período, o ano em que mais recebeu foi 2015, com R$ 105,6 milhões entre pagamentos orçamentários e restos a pagar.

Em pouco menos de quatro anos, a gestão Crivella já pagou R$ 405,9 milhões para a Organização Social. O maior valor anual ocorreu agora em 2020: R$ 133,7 milhões.

Ao todo, portanto, o CEPP já recebeu R$ 820,6 milhões da prefeitura do Rio.

Nesta terça (13), a prefeitura publicou em Diário Oficial o sétimo termo aditivo a um contrato assinado em 2017 com a entidade para a gestão do Hospital da Mulher Mariska Ribeiro. O valor, por um ano, é de R$ 35,9 milhões.

Doador de Witzel

Bruno Kopke havia ficado mais conhecido nos últimos tempos não por sua relação com a prefeitura do Rio, mas com Organizações Sociais que atuavam junto ao governo estadual.

Na denúncia feita pelo Ministério Público do Rio em março deste ano de um suposto esquema de desvio de verbas da Saúde através da subcontratação de empresas pelos institutos Data Rio e Unir Saúde, o nome de Bruno aparece dezenas de vezes. Segundo o MP, ele atuou como diretor médico das duas OSs.

Conforme o blog mostrou em maio, o médico foi o quinto maior doador de campanha de Wilson Witzel nas eleições de 2018. Por sua vez, a requalificação da Unir Saúde pelo governador afastado, em março deste ano, acabou sendo um dos principais motivos que levaram a Alerj a dar andamento ao processo de impeachment.

Bruno Kopke chegou a ser convocado pela comissão da Assembleia criada para investigar os gastos do estado durante a pandemia, mas não compareceu para prestar esclarecimentos.

Sorrisos com Crivella

O blog teve acesso a uma foto em que o médico aparece sorrindo ao lado de Marcelo Crivella. A reportagem questionou a assessoria do prefeito sobre a relação com Bruno Kopke, mas não houve resposta.

De acordo com a denúncia de março do MP estadual, Bruno já foi sócio no passado de Leandro Braga de Sousa na empresa CCM Soluções em Serviços. Leandro, que chegou a ser preso, foi apontado pelos promotores como um dos operadores do esquema que envolveria os institutos Data Rio e Unir Saúde.

Além disso, Leandro Braga de Sousa foi sócio nos Estados Unidos da nora de Crivella, Maressa, na empresa LP Participações LLC. Após a sociedade ter sido divulgada, ela deixou a empresa.

Outro lado

Bruno Kopke, por sua vez, também chegou a ser sócio de um posto de gasolina em Jacarepaguá com capital social de R$ 1 milhão, aberto em 2018. Atualmente, ele não aparece oficialmente como dono da empresa, mas o e-mail registrado na Receita Federal continua sendo o dele.

O blog enviou perguntas por e-mail tanto para o médico quanto para o CEPP, mas não obteve resposta.

Abaixo, a íntegra do posicionamento da RioSaúde:

“Em primeiro lugar, é importante deixar claro que o médico Bruno José da Costa Kopke Ribeiro atua atendendo pacientes no Hospital de Campanha da Prefeitura), no Riocentro, e na UPA Paciência. Como todos os cerca de 14 mil profissionais assistenciais da RioSaúde, ele é vinculado à Diretoria Executiva Assistencial (DEA), que na estrutura administrativa da Empresa Pública de Saúde é subordinada à Vice-Presidência, como aparece descrito nos contracheques. Não se trata, portanto, de qualquer cargo comissionado ou de gestão, mas sim de cargo assistencial, sendo que os contratos de trabalho do Dr. Bruno são temporários.

A Constituição Federal, em seu art. 37, inc. XVI, alínea “c”, autoriza a acumulação de dois cargos públicos para os profissionais de saúde, quando a carga horária for compatível. Pela matrícula 399303, cuja data de admissão é 20/05/20, o Dr. Bruno faz 30h semanais, de segunda a sexta-feira, atendendo pacientes internados por covid-19 no HCamp. Pela matrícula 267468, com data de admissão em 04/01/20, o profissional tem carga horária de 24h semanais (dois plantões noturnos de 12h às terças-feiras e aos domingos) na UPA Paciência.

Todos os valores que incidem sobre seus contracheques são os praticados para os médicos da RioSaúde, conforme especialidade e carga horária, incluindo os adicionais, como os específicos para profissionais que atuam nos hospitais dedicados ao coronavírus.

Vale ainda acrescentar que, embora não houvesse qualquer impedimento legal para que o Dr. Bruno tenha cargo assistencial na RioSaúde, o médico não é mais membro do conselho da referida organização social, conforme comprova a cópia da ata da Assembleia Geral Extraordinária da OS, com sua carta de renúncia”.

*Foto em destaque: Hospital de Campanha do Riocentro, uma das unidades onde Bruno Kopke tem cargo / Divulgação / Prefeitura do Rio

3 comentários

  1. O seu trabalho no blog alimenta o espírito de cidadania. Ainda existe vida inteligente no Jornalismo (com maiúscula). Obrigada.

Deixe uma resposta