Governador em exercício do Rio, Cláudio Castro, é citado em caderno apreendido com réu na Operação Catarata

Operação Catarata: nome de Cláudio Castro aparece em caderno apreendido na casa de réu

Manuscritos que constam num caderno apreendido durante as investigações da Operação Catarata, que apura desvios de verbas de projetos sociais da prefeitura do Rio e do governo estadual, trazem o nome do governador em exercício, Cláudio Castro.

As referências não foram claramente explicitadas no relatório que está num dos processos relacionados à operação, que detalha parte do material encontrado na residência de Marcus Vinícius Azevedo da Silva, empresário e funcionário da prefeitura, um dos réus na ação.

A reportagem, porém, localizou as citações a Cláudio Castro nas próprias reproduções dos manuscritos, em trechos que datariam de outubro e novembro de 2016 e tratariam do planejamento de negócios do Grupo RioMix (referência à empresa de Marcus Vinícius) para os anos seguintes.

Conforme o blog noticiou em julho do ano passado, o empresário chegou a ter cargo no gabinete do atual governador em exercício enquanto ele era vereador da Câmara do Rio, em 2017. Segundo o jornal O Globo, em agosto deste ano, Marcus Vinícius, que chegou a ser preso no ano passado, teria fechado acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR).

Em nota (íntegra no fim do texto), a assessoria de imprensa do Palácio Guanabara afirmou que o governador em exercício “não é investigado”. E acrescentou: “Em relação aos manuscritos, Cláudio Castro não teve acesso à íntegra, porém cabe ressaltar que, durante sua passagem pelo parlamento, fez oposição ao governo (municipal), frustrando qualquer intenção que por ventura Marcus Vinicius tivesse”.

“Articulação”

Abaixo, seguem as reproduções do caderno que estão num processo público que tramita na Justiça do Rio. A primeira referência aparece como “CCastro + MPacheco”, ao lado de “articular serviços e subcontratos”. Na descrição, o relatório fala genericamente na menção de “políticos”.

Em seguida, há os nomes “Márcio Pacheco” e “Cláudio Castro” (grifo em vermelho feito pelo blog) após a frase “Manter articulação de captação de clientes e ‘mkt viral boca-a-boca’”. Na descrição do relatório, novamente fala-se em “políticos”.

Numa outra parte, com referência a projetos voltados para a terceira idade, aparecem novamente os nomes “Cláudio Castro” e “Márcio Pacheco” acompanhados de “manter articulações”.

Por fim, num outro trecho com o título “desdobramento de metas”, o nome “Cláudio Castro” aparece abaixo do de Flávio Chadud, na parte que cita contratos e convênios. Empresário, Chadud foi um dos presos na segunda fase da Operação Catarata, acusado de se beneficiar de contratos fraudulentos com a prefeitura do Rio e a Fundação Leão XIII, do estado. Ele foi solto esta semana por decisão da 5ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio.

Deputado citado

Com o nome também citado nos manuscritos, o deputado estadual Márcio Pacheco (PSC) tem relação de longa data com Cláudio Castro. Em fevereiro de 2011, o atual governador em exercício foi contemplado com o primeiro cargo no gabinete do parlamentar na Alerj, com quem acabou atuando por muitos anos. A experiência serviu inclusive de trampolim para que Castro conseguisse uma cadeira de vereador na Câmara do Rio, nas eleições de 2016.

Pacheco chegou a ser líder do governo de Wilson Witzel, mas se afastou em meio à crise que culminou com o afastamento do ex-juiz do cargo. Agora, com Castro como chefe do Executivo, o deputado voltou ao posto.

Em nota, a assessoria de imprensa do parlamentar disse que “sua relação com Marcus Vinícius Azevedo da Silva se deu no âmbito da Igreja Católica, através dos eventos realizados ou apoiados pela produtora de Marcus Vinícius, Jubilum Produções, da qual Pacheco integrava o cast de artistas”. “O deputado reforça que não tem nenhuma outra relação com o empresário e que está à disposição da Justiça e da Imprensa para quaisquer esclarecimentos”, completou.

“Gago”

Apesar de não ser réu no processo decorrente da Operação Catarata que tramita no Tribunal de Justiça do Rio – como é ressaltado pelo Ministério Público nos documentos da ação -, o governador em exercício teve o nome mencionado por pelo menos 13 vezes na denúncia oferecida pelos promotores em agosto deste ano, na segunda etapa das investigações.

A primeira referência é uma citação de um trecho de um depoimento do empresário Bruno Campos Selem, um dos acusados no processo. Ele afirmou que Cláudio Castro, “que tinha o apelido de ‘Gago’, recebia propinas e auferia vantagens políticas com o projeto Qualimóvel municipal”.

O Qualimóvel, projeto social com ações de saúde para pessoas acima de 40 anos, foi bastante lucrativo para a empresa Servlog, de Flávio Chadud, na prefeitura do Rio. De R$ 25 milhões recebidos pela companhia do município entre 2012 e 2018, R$ 19,7 milhões se referem a esse projeto.

A denúncia do MP também trouxe mensagens de aplicativo trocadas por Cláudio Castro com Marcus Vinícius Azevedo da Silva em 2016 em que eles combinavam a ida a uma festa de aniversário de Chadud.

“Devassa desproporcional”

O documento ainda tem fotos de Castro junto com dois presos na segunda fase da Catarata: o ex-subsecretário executivo João Marcos Borges Mattos e o ex-secretário de Educação do governo Witzel, Pedro Fernandes. Eles foram soltos esta semana. De acordo com o MP, os dois teriam beneficiado, em troca de propina, a empresa ligada a Flávio Chadud quando exerceram controle sobre a Fundação Leão XIII, entre 2015 e 2018. João Marcos e Pedro Fernandes negam as acusações.

A divulgação dessas referências pela imprensa desagradou o governador em exercício. Em 22 de setembro, os advogados de Castro encaminharam à Justiça um pedido para que todas as menções a Castro fossem retiradas de um processo que está público, o que não ocorreu até o momento.

A defesa alegou que as informações de “sua intimidade, vida privada e honra” foram difundidas de “forma espetaculosa e infundada” na denúncia do MP, mencionando ainda uma “devassa desproporcional e ilógica”.

No dia 16 de setembro, a Globonews também mostrou imagens de Castro indo à sede da empresa Servlog, de Flávio Chadud, na Barra da Tijuca, em 29 de julho do ano passado. Esta mesma data foi citada em depoimento de Bruno Selem como sendo a de uma suposta entrega de propina ao governador em exercício, que deixou o local com uma mochila. O detalhamento deste depoimento está num processo em segredo de Justiça.

Contratos milionários

As investigações do MP foram decorrência de apurações realizadas inicialmente pela Controladoria Geral do Estado (CGE) em cima de contratos de projetos sociais da Fundação Leão XIII, no período de 2015 a 2018.

No estado, a empresa Servlog, de Flávio Chadud, assinou em 2017 um contrato de serviços oftalmológicos, de R$ 20,9 milhões, que foi recebendo aditivos ano a ano. Ele foi renovado inclusive em 2019, mas com redução de valor, no início da gestão de Wilson Witzel. A RioMix 10, de Marcus Vinícius Azevedo da Silva, também assinou contrato de R$ 19,8 milhões em 2017 para um projeto chamado “Agente Social”, que foi interrompido no início de 2019.

Na prefeitura do Rio, para onde avançaram as investigações, além dos projetos realizados pela Servlog, há indícios de que Marcus Vinícius tenha articulado contratos com ONGs, principalmente voltados para serviços para a terceira idade. Até 2016, o empresário exerceu vários cargos na Secretaria de Envelhecimento Saudável, que chegou a ser comandada pela ex-deputada Cristiane Brasil, presa na segunda fase da Operação Catarata e solta esta semana.

Atualmente, Marcus Vinícius segue recebendo salário como funcionário de carreira da prefeitura do Rio. Em setembro, ele ganhou R$ 7,2 mil brutos.

O que diz o governador

Abaixo, a íntegra do posicionamento da assessoria de imprensa do Palácio Guanabara:

“O governador em exercício Cláudio Castro afirma que não é investigado e que o vazamento de informações que correm em segredo de Justiça é crime* e deve ser combatido em nome do Estado Democrático de Direito. Neste sentido, o governador já protocolou uma representação no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) contra os promotores do caso.

Em relação aos manuscritos de Marcus Vinícius, Cláudio Castro não teve acesso à íntegra, porém cabe ressaltar que, durante sua passagem pelo parlamento, fez oposição ao governo, frustrando qualquer intenção que por ventura Marcus Vinicius tivesse.

Marcus Vinícius, a posteriori, tornou-se desafeto do governador em exercício após ter um contrato rompido pela Fundação Leão XIII, em janeiro de 2019″.

*Nota do blog: Os trechos dos manuscritos citados na reportagem foram obtidos num processo público.

**Foto em destaque: Governador em exercício do Rio, Cláudio Castro, em entrevista coletiva / Divulgação

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