Prefeito do Rio, Marcelo Crivella

opinião: crivella precisa optar entre a igreja e a saúde das pessoas

Em um vídeo divulgado no último fim de semana, o líder da Igreja Universal, Edir Macedo, anunciou uma “boa notícia”: baseado num relato de “um cientista”, afirmou que não é preciso se preocupar com o coronavírus, porque essa “é mais uma tática de Satanás”. Ao minimizar a pandemia, endossou informações falsas divulgadas por um patologista no YouTube, que contrariam dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Não bastasse ser uma referência para milhões de pessoas que frequentam seus templos, temos que lembrar: Edir Macedo exerce influência direta nos pensamentos de seu sobrinho e bispo licenciado da Universal, Marcelo Crivella. Que é, como todos sabem, prefeito do Rio de Janeiro, segunda maior metrópole do país.

Diante disso, vem a questão. Será que os cidadãos cariocas que dependem da rede municipal de Saúde terão realmente o suporte adequado ou terão que apostar somente na fé?

Agenda com vereadores

Basta olhar para algumas das reportagens que fiz ao longo dos últimos meses no blog para acender o sinal de alerta. O filho de um pastor da Universal comandando a publicidade da prefeitura, o filho de um bispo da igreja cuidando da diversidade religiosa, o terreno de uma escola sendo transferido a uma fabricante de bíblias…

Até sexta passada (13), o prefeito parecia estar tomando um caminho mais ativo nas ações de prevenção contra o coronavírus. Esteve mais na linha de frente. Agora, já não parece bem assim.

No domingo (15), retomou uma agenda de inauguração de obras típica de ano eleitoral. Como vem fazendo nos últimos meses, gravou vídeos para as suas redes sociais ao lado dos vereadores Marcello Siciliano (Podemos) e Marcelino D´Almeida (Progressistas). Com Marcelino, posou junto com um grupo de moradores de Realengo.

Visita ao BRT

Na manhã desta segunda, Crivella já mostrou em suas redes sociais que visitou obras de uma escola cívico-militar no bairro do Rocha, acompanhado do seu secretário de Infraestrutura, Sebastião Bruno. Ainda esteve em obras do BRT Transbrasil, que se arrastam há anos. Ou seja: o recado é que a sua rotina continua normalmente.

Há que se dizer que sim, a prefeitura vem tomando medidas. Nesta segunda, por exemplo, foi publicado no Diário Oficial um decreto com novas regras de trabalho para servidores nos próximos dias. Mas o prefeito já não parece estar mais tão na linha de frente.

Ao seguir com a sua rotina normal, Crivella corre mais um grande risco em ano eleitoral. Foi exatamente a recente crise “inventada pela Rede Globo” na Saúde do Rio que o levou aos piores índices de popularidade. Como confiar então que agora, na perspectiva de uma superlotação ainda maior em hospitais e clínicas, tudo vai funcionar bem?

Nesta segunda, o RJ-TV já falava sobre falta de máscaras para profissionais numa unidade de referência. E ainda estamos longe de chegar ao pior da crise.

#ConheçaAVerdade

Seja por humanidade ou simplesmente pela obsessão de vestir a faixa presidencial daqui a alguns anos, o governador Wilson Witzel parece tomar rumos diferentes de Crivella. Nesta segunda, fez novos apelos na TV para que as pessoas fiquem em casa e segue focado no gabinete de crise. Seu secretário de Saúde, Edmar Santos, tem dado entrevistas até para a Record, que, teoricamente, deveria priorizar integrantes da prefeitura.

Neste domingo, por sua vez, o presidente Jair Bolsonaro participou de manifestações sem se importar com as recomendações de prevenção contra o coronavírus feitas por especialistas. Além do bispo Macedo, Crivella tem então mais uma referência completamente errada de como proceder diante desta crise apitando em sua mente.

Para esta segunda, o prefeito anunciou uma live no Facebook para às 20h com dois especialistas da prefeitura: a coordenadora de Vigilância em Saúde, Patrícia Guttmann, e o subsecretário de Atenção Hospitalar, Urgência e Emergência, Mário Lima.

Na chamada das redes sociais, usou a #ConheçaAVerdade.

Será que o tio do prefeito vai compartilhar?

*Foto em destaque: Prefeito do Rio, Marcelo Crivella / Fernando Frazão / Agência Brasil

**O vídeo do bispo Edir Macedo foi apagado após a publicação inicial deste texto.

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