Briefing da campanha publicitária do Estado do RJ

Estado do RJ prepara campanha de R$ 9 milhões para destacar ações tomadas na pandemia

“A população precisa tomar conhecimento das coisas positivas realizadas pelo governo”. Essa é uma das frases que dão o tom de uma campanha elaborada pela agência de publicidade Nacional para destacar ações tomadas pelo Estado do Rio durante a pandemia.

Enquanto muitos profissionais que estiveram na linha de frente do combate ao coronavírus ainda penam para receber salários, R$ 9 milhões já foram transferidos do Fundo Estadual de Saúde para abastecer a divulgação de peças de propaganda. A nota de empenho, que garante a reserva dos recursos, foi inserida nesta quarta (26) no Sistema Eletrônico de Informações (SEI)

Apesar de ser classificada como uma campanha de utilidade pública, já que também fala em ações de prevenção para o processo de reabertura, o briefing da agência deixa clara a intenção de melhorar a imagem do governo – que até quinta (27) tinha à frente Wilson Witzel.

A apresentação do conceito afirma que “sem propaganda”, a população “fica sabendo só das coisas negativas divulgadas pela imprensa”. E complementa: “É preciso equilibrar o jogo”.

A Secretaria estadual de Saúde afirmou em nota (íntegra no fim do texto) que “a campanha deve focar nas informações de utilidade pública que conscientizam e orientam o comportamento que a população deve ter”.

“Entregas do governo”

O briefing da agência explicita dois pilares: “promover uma reabertura responsável” e “divulgar o conteúdo de entregas feitas pelo governo durante a pandemia”.

Como o estado está sob o Regime de Recuperação Fiscal, os gastos com publicidade estão proibidos a não ser que se encaixem como utilidade pública. E, desde o ano passado, a atual gestão vem usando desse subterfúgio para driblar as limitações. Em janeiro, o blog mostrou que o governo Witzel jorrou nos últimos meses de 2019 R$ 56 milhões em propaganda, com destaque para Globo e Record.

Agora em junho, durante a pandemia, já haviam sido retirados R$ 3 milhões da Saúde também para uma campanha publicitária voltada para a reabertura consciente.

“Juntos contra o coronavírus”

Na prévia de um dos filmes para a nova campanha, o comercial diz que o “Rio de Janeiro só está reabrindo porque Governo do Estado e população estão atuando juntos contra o coronavírus”.

Um outro trecho fala que “mais de 2 milhões de casos (de Covid) foram evitados por conta do distanciamento social”. “E mais de 150 mil vidas salvas”.

Realmente, o Rio saiu na frente nas medidas de fechamento, mas pecou no oferecimento de leitos. Apenas dois de sete hospitais de campanha abriram, com atraso, apesar do repasse de R$ 256 milhões à Organização Social Iabas, que teve dois dirigentes com mandados de prisão expedidos nesta sexta (28). Esta semana, o El Pais revelou que ao menos 2.340 pacientes morreram enquanto esperavam um leito de UTI no estado.

A peça publicitária também destaca o fornecimento de “mais de 600 mil testes rápidos para os municípios”. Não menciona que a compra de testes é uma das que estão na mira do Ministério Público por suspeitas de superfaturamento.

Ainda há uma menção à sanitização de comunidades realizada pela Cedae. Reportagem da Globonews veiculada este mês também apontou indícios de que o serviço pode ter saído mais caro do que deveria para os cofres públicos.

“Defensores do governo”

Pelo plano de mídia da campanha, as maiores fatias do bolo foram reservadas para as TVs Globo, SBT e Record, todas acima de R$ 1 milhão. Há uma série de outros veículos, como sites, rádios, impulsionamento em YouTube e Facebook e mídia em ônibus e metrô. Também foram reservados R$ 120 mil para a Favela On, na Rocinha.

Um ponto que chama a atenção é a estratégia dos chamados “merchans”, em que apresentadores falam das ações tomadas pelo governo. Nos slides do briefing, a agência deixa evidente o objetivo:

No plano, foram reservados R$ 96 mil para que comunicadores usem “a sua credibilidade em prol da campanha”:

Nesta sexta, após o anúncio de seu afastamento, Witzel também defendeu a sua política na área de Saúde. Apesar de todas as denúncias, ressaltou que foram investidos R$ 7 bilhões no setor mesmo antes da pandemia. Como o blog mostrou esta semana, só no ano passado, R$ 1,7 bilhão foram destinados a Organizações Sociais, sendo boa parte delas alvos de suspeitas de corrupção.

Outro lado

A Secretaria estadual de Saúde encaminhou nota com os seguintes esclarecimentos:

“A secretaria descentralizou recursos para realização de campanha, com foco nas medidas de prevenção ao novo coronavírus no contexto da reabertura gradual.

Conforme a ficha técnica descritiva, anexada ao SEI (Sistema Eletrônico de Informações), a campanha deve focar nas informações de utilidade pública que conscientizam e orientam o comportamento que a população deve ter, conforme preconizado pela Organização Mundial da Saúde, para continuar com a redução do número de casos e óbitos no estado, e redução da transmissão da Covid-19.

A descentralização foi publicada em Diário Oficial no dia 19 de agosto. Todas as informações são públicas e podem ser acessadas de forma transparente nos portais do governo.

As definições sobre briefing, plano de mídia e data de veiculação cabem à Subsecretaria de Comunicação Social do Governo do Estado do Rio de Janeiro, responsável pelos contratos e licitações com agências de publicidade e de comunicação.

As estratégias de comunicação de medidas de prevenção, orientação e prestação de contas, propostas pela agência e pela Subsecretaria de Comunicação, assim como as peças finais da campanha, são validadas pelos técnicos da Assessoria de Comunicação e pelas áreas técnicas de enfrentamento ao Covid-19″.

*Foto em destaque: Slide do briefing da campanha publicitária do Estado do RJ / Reprodução

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